Palcos de entretenimento

É justo considerar deselegante – no mínimo – rir da indignação alheia. Mas há revoltas que nos arrancam sorrisos involuntários.

O apropriado será, portanto, encarar alguns argumentos do nosso quotidiano como mero entretenimento. Mesmo que alguns roubem tempo que a Justiça não tem, como facilmente nos apercebemos em função da quantidade de casos que se amontoam nos tribunais.

Atenção. Não somos Anjos. Todos nos indignamos, principalmente quando somos o motivo da piada. Mas levar a tribunal um caso sustentado pela mera irritação é transformar a Justiça num palco de egos feridos e conversas mal resolvidas. Assim, não há agenda judicial que resista, de facto.

Só assim se explica que andemos também entretidos com José Sócrates há largos anos. Aliás, nem o homónimo da filosofia conseguiria encontrar lógica na defesa que o político tem tentado promover sempre que se irrita perante as câmaras.

Não justifica o que se ouviu nas escutas, não explica o que está por explicar. Diz-se perseguido por todos. Até pela juíza. E repete-o até à exaustão, principalmente quando não gosta das perguntas. Resta perceber até quando continuará a ter palco e se há forma de evitar este desfile noticioso que nada acrescenta de relevante a um processo que já devia ter terminado. Como tantos outros, aliás.

O que não termina são outros enredos que também só entretêm e pouco ou nada resolvem. Discutem-se soluções, mas quase nunca se materializam com a celeridade que se impõe.

Nas últimas semanas, por exemplo, todos os partidos com ou sem assento parlamentar concordaram com a necessidade de alterar o modelo do subsídio de mobilidade aérea. A autoria das alterações, essa, já foi diferente. Justificou amplo debate e atingiu níveis ensurdecedores. Mais até do que o ruído provocado pela interpretação dos Anjos do hino nacional.

O mais curioso? Nada se alterou. O modelo continua a ser criticado por todos. Passaram propostas do PSD, CDS e PCP para eliminar a necessidade de os residentes nas ilhas terem de adiantar a totalidade do preço das viagens. Mas a mudança fica dependente de uma plataforma digital que já devia ter sido criada e não tem data para implementação.

Portanto, até ver, os passageiros continuam a pagar primeiro para serem reembolsados depois. Quem não tem dinheiro para se chegar à frente, fica em casa. Assim como muitos que tiveram de lidar com nova paralisação no aeroporto devido a uma ventania que durou dias a fio.

É lógico que ninguém pode controlar a meteorologia. Mas já era tempo de se preparem alternativas – nem que seja tentar – que defendam um destino que acaba prejudicado pela regularidade com que fica fechado a entradas… e saídas. Porque espalhar colchões nos aeroportos não devia ser suficiente. Mas é só isso que se tem visto.

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