Cortinas de fumo

Se não o soubéssemos já, passámos a perceber: os nacionalistas promovem-se e disseminam as suas ideias com a mentira (repetida à exaustão), a violência e o discurso de ódio. Usam demagogicamente a língua (que não dominam), a história (que não conhecem), a religião (cujos princípios não praticam) para atingir o poder e dominar a riqueza pública. Fomentam a suposta coesão nacional na criação de inimigos externos, culpados de todos os males: normalmente os imigrantes e a classe política que sustenta o seu trabalho no regime democrático. Explicam claramente que usarão a democracia para acabar com ela.

Em Portugal começou a ser habitual ouvir a extrema-direita lançar ataques sobre pessoas de etnia cigana. Acusam-nas de muitas coisas, inclusivamente de não se quererem integrar na sociedade portuguesa, recusando a frequência das aulas. Desta vez usaram crianças para fins político partidários, citando os seus nomes publicamente. Uns nomes portugueses e outros não. Vale tudo na promoção do ódio. Para além da gravidade do ato em si, salta à vista a incoerência argumentativa: criticam quem acusam de não se querer integrar e simultaneamente criticam quem o quer fazer. Ou seja, fica claro que a sua intenção não é resolver problemas. É mesmo tentar criar a coesão interna através do ódio, do racismo e da xenofobia. É até irónico quando se percebe que a deputada que divulga as listas tem família de origem indiana e um apelido de origem muçulmana…

Várias organizações internacionais que estudam as questões do racismo e da xenofobia colocam o Chega ao nível dos Proud Boys, organização extremista e radical de direita, com ramificações e financiamento internacional.

Usam o discurso anti-imigração ou anti cigano, a misoginia ou a homofobia para construírem a perceção de que estes são problemas que corroem as sociedades, potenciando o discurso de ódio que pretendem que conduza, mais cedo ou mais tarde, a atitudes violentas e graves no nosso dia-a-dia.

Sabem que só na instabilidade conseguirão o poder para dominar o Estado. E para lá chegar, manipulam a opinião pública e usam todos os meios ao seu alcance.

Entretanto, o PSD, na busca de mais votos, vai fazendo o papel de governo sombra do Chega, ampliando este tipo de discurso e produzindo as políticas desse partido. No fim de semana passado, na convenção do PP espanhol, Montenegro reforçou estas ideias, falando de “imigração descontrolada” e “segurança nas ruas”.

São subterfúgios que têm servido para dividir a população e lançar cortinas de fumo sobre os fracassos da governação do PSD. Por exemplo, no SNS. Em 2024, Luís Montenegro afirmou que criaria um plano de emergência em 60 dias: diminuição dos prazos na marcação de consultas de saúde familiar, inclusão da teleconsulta como alternativa ao atendimento presencial, enfermeiro e médico de família, vouchers para consultas de especialidade e cirurgias. Prometeu uma especial atenção na área da obstetrícia e da pediatria. Nada disto aconteceu.

Continuamos a ter urgências encerradas, bebés que morrem nos partos e grávidas que andam km para serem assistidas. Em menos de uma semana morreram 4 bebés. Demissões e assunção de responsabilidades não existem. Na educação continuam a escassear creches e jardins de infância. Fica-se com a ideia de que o PSD faz uma gestão errada de greves e serviços intencionalmente, para que se ache natural a entrega de todos estes serviços ao setor privado.

O PSD usa cortinas de fumo como base do seu trabalho político. Na busca incessante do voto popular, participa e é também responsável pela legitimação do ódio que já grassa na nossa sociedade.

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