Tudo está bem quando acaba bem

Somos todos iguais, costuma dizer-se. Só que não. Somos, quanto muito, todos semelhantes. Uns mais parecidos do que outros. Regra geral com 2 pernas. 2 braços. 2 olhos e uma boca. Uns mais gordos. Outros mais magros. Uns mais altos. Outros mais baixos. E, se ao nascer, parecemos todos uns engelhados, mas insistem em dizer que somos bonitos… Já quando partimos temos tendência a voltar a ficar bem parecidos. Ainda que em vida não tenhamos devido algo à beleza ou valido um chavelho.

Sim, quantas vezes já viram tipos que não interessavam nem ao menino Jesus que, ao serem por Ele chamados, passaram a ser uns excelentes pais, maravilhosos maridos, extremosos filhos e fiéis amigos? Puff. Eu cá já perdi a conta!

Todos os dias, e obviamente por estes também, vimos partir gente. Gente que ainda não tinha nascido. E gente que ainda não tinha morrido. Sim, eu explico. Partiu, sem sequer ter visto a luz do dia, um bebé de uma grávida que teve dificuldades em obter assistência hospitalar. Foram contactados três hospitais que recusaram a utente por não disporem de vagas. Foi então encaminhada para um outro bem mais distante, onde deu entrada cerca de 2h30m depois de chamar o INEM. Sabiam? Os mais atentos, talvez. E o Luís Jardim? Aquele músico madeirense que trabalhou com bandas como os Rolling Stones, David Bowie e Tina Turner? Então não é que também foi desta para melhor?! É pois. Juro.

Já noutra tragédia, não deve ter havido vivalma que não tivesse tido conhecimento. Até os mais distraídos sentiram o ocorrido na madrugada de quinta para sexta, em que dois jovens de 28 e 25 anos também perderam a vida. Iam de carro. Despistaram-se. Um deles era o Jota. O outro o irmão. Mas podia ter sido o Kapa. Ou o Hagá. Eram vidas como as outras. Com a semelhança de, em ambos os casos, ser notória a falta de sorte. Porém com a diferença de, no caso da grávida, a responsabilidade ser de todos nós. Já no do jogador, ser apenas dele.

Posso, com isto, fazer-vos crer que sou insensível à partida do Diogo e do André. Longe disso. Antes pelo contrário. Assim que recebi a notícia procurei saber se era verdade. Arrepiei-me. Pensei no sofrimento dos que ficaram, para sempre, sem aqueles filhos, maridos, pais, amigos, etc… No entanto, procurei ser racional e perceber o que nos faz sentir mais umas perdas do que outras. Porque reage, por exemplo, um primeiro-ministro a um acidente e se tenta fingir de morto a um incidente no SNS?! Não faço ideia.

É que todos sabemos que isto é “normal”. É normal partir. É, inclusive, a única certeza que temos. Pensamos é que isso só acontece em moradas que não a nossa. Ou, porventura, que os “famosos” têm mais vidas. E eu não condeno. Eu próprio acho isso. Vivo com um medo tremendo de perder os meus e acredito que as grandes figuras são mais resistentes ou protegidas por entidades divinas. Juro. Quem me conhece bem sabe que tenho uma panca. Quem não conhece pensa que tenho mais, ok… Mas aquela a que me refiro é a uma em particular. Eu, por exemplo, quanto mais ando de avião, menos confortável me sinto em fazê-lo. Podem dizer que mais depressa há acidentes de carro. Que o meio aéreo é o mais seguro. Que, que e que… Mas enquanto não me nascerem asas, no céu e com a lei da gravidade que conheço, eu só estou bem se for colega de cabine de gente importante.

Há tempos vinha do Porto Santo. Para fazer a vontade aos miúdos, abdiquei do regresso de barco e fiz-lhes companhia. E se já nos “pássaros de grande porte” a coisa é o que é, naqueles franzinos cujo motor parece desligar a meio e abanar por todos os lados, o que não seria?! Sorte a minha que, ao entrar, vi o Dionísio Pestana e mais meia dúzia de magnatas. “Ufa”, disse para mim. “Com esta gente o avião nunca mais cai. E se, na pior das hipóteses, cair, ainda nem no mar tocámos e já temos meios de salvamento no local”. É tonto? É. Mas eu também sou…

E outra vez vinha de Lisboa ou do Porto. Não me recordo bem. Mas de mais longe não seria, com toda a certeza. Ainda tenho os 2 rins. Um dia que venda um, talvez consiga ir mais longe… E quando entro, reparo, nas primeiras filas naturalmente, na presença do Secretário do Turismo. Que maravilha. Já podia estar vento. Nevoeiro. Chuva torrencial. Seria, por certo, uma viagem de sonho. Desse no que desse, teríamos sempre um final feliz e um #visitmadeira à nossa espera. Enfim… É o que é!

Ps, já que estou numa de pesar as vidas, quero deixar o meu agradecimento pela que deram ao senhor meu pai. Ainda que espere que ele dure muitos anos ou se torne eterno, aprecio as palavras que lhe dedicaram. Registo o que se diz quando o destinatário ainda por cá anda.

Para mim pouco importa o que escrevem para quem parte. Já não será lido e não.

Sou suspeito, mas o filho da mãe do meu pai merece todas. Obrigado.

PS PS, brilhante escolha para a CMF. Sem desprimor para o anterior candidato, esta foi do Car(v)alho. Ufaa… Tudo está bem quando acaba bem.

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