A Solidão na Terceira Idade: o silêncio que adoece

Há um silêncio que não vem da paz, mas da ausência. Um silêncio que se instala nos corredores da casa, nas janelas fechadas, nas conversas que deixaram de acontecer. É o silêncio da solidão — aquela que, lentamente, vai ocupando o lugar das pessoas, das rotinas, da própria vontade de existir.

Na terceira idade, a solidão não é apenas um sentimento: é, muitas vezes, uma sentença. Com a passagem dos anos, a perda de companheiros, amigos, vizinhos, papéis sociais e até mesmo da mobilidade vai empurrando muitos idosos para um território invisível. Continuam entre nós, mas são muitas vezes esquecidos — pelas famílias, pelas comunidades, pela sociedade que corre depressa demais para os acompanhar.

Mas a solidão não é um estado neutro. A ciência já comprovou que o isolamento social prolongado aumenta significativamente o risco de depressão, demência, doenças cardiovasculares e até da mortalidade precoce. A solidão, em certas idades, mata. Não o faz de forma imediata, mas vai minando aos poucos a vontade de viver, o apetite, o sono, a memória e o brilho do olhar.

E, talvez, o mais duro de tudo isto seja o modo como a solidão é tantas vezes desvalorizada. “Está sozinho, mas tem a televisão.” “Ao menos está em casa.” “Não gosta de sair.” São frases que ouvimos sem perceber que, para muitos idosos, a solidão é uma dor crónica. E ao contrário de uma ferida visível, ninguém a trata.

É por isso que a presença humana, o afeto, o toque, a escuta e a empatia ganham um valor inestimável nesta fase da vida. Um gesto simples — como um passeio, uma conversa ou um olhar atento — pode ser a diferença entre o abandono e a dignidade. Entre o existir e o viver.

Cuidar dos mais velhos é mais do que garantir medicamentos e alimentação. É oferecer-lhes sentido. É relembrá-los de que continuam a ser importantes, a ter histórias que merecem ser ouvidas, a ter nome, identidade e lugar.

Não deixemos que a solidão seja o fim. Que esta fase da vida seja também um tempo de partilha, de reencontro com o que é essencial e de amor em formas que o tempo não apaga. Porque envelhecer com dignidade não é apenas sobreviver — é continuar a ser visto, ouvido e amado.

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