Governa. Não governa. Passa programa. Não passa. O quotidiano político madeirense é feito de enganos e desenganos. O não de hoje passa a talvez amanhã. Desde que se deixe alguma margem para não borrar muito a pintura, claro.
O que importa, pelo menos por agora, é negociar. Alguns endurecem o discurso e não facilitam em nome dos seus ideais, é verdade. Outros fazem de conta que sim. Mas, todos garantem ser preciso incluir esta ou aquela medida, bloquear este ou aquele investimento, para validarem a futura governação social-democrata.
O CDS, por exemplo, conseguiu impor 80% das suas ideias no Programa de Governo que será apresentado na próxima semana. A Iniciativa Liberal avisa ter oito pontos de que não abdica. O PAN mais umas quantas causas para defender. E o PSD, que ganhou as eleições? Terá espaço para cumprir com as suas promessas? Parece difícil, até porque o mandato é por quatro anos – em princípio, pelo menos – e o orçamento não estica.
Os resultados eleitorais originaram uma roda-viva de análises. Algumas dramáticas. E percebe-se… Porque a Madeira sempre esteve acostumada a um quadro de maioria parlamentar, embora, nos últimos anos, sustentado à custa de geringonças. Em democracia, no entanto, será assim tão anormal governar em minoria, dialogando ponto a ponto? É mais difícil, pois claro, mas não deveria ser impeditivo de fazer cumprir a vontade manifestada pelo povo nas urnas. Tal como acontece noutras paragens.
A aritmética da política quase parece um ‘bicho de sete cabeças’. Se quem governa não chega aos 24 deputados no Parlamento, está o caldo entornado. E não deveria. Porque a oposição também tem a sua quota parte de responsabilidade sobre o futuro.
Quem não aprovar o Programa de Governo terá de justificar a razão pela qual a Madeira continuará paralisada. Quem chumbar o Orçamento vice-versa, se bem que, neste caso, convém relembrar os mais esquecidos que o Governo não cai sem Orçamento, ficando, todavia, preso a uma gestão por duodécimos, o que acabaria por penalizar a Região, naturalmente. Não esqueçamos, como é óbvio, que o diálogo tem de ser promovido pelo partido vencedor, que tem sempre a maior dose de responsabilidade.
Neste contexto, a Madeira necessita urgentemente de políticos com maturidade. De entendimentos capazes de retirar a Região da letargia a que foi votada após a demissão de Miguel Albuquerque.
De conversas claras, que preservem o essencial, que é a procura por mais e melhores condições de vida para todos os residentes no arquipélago.
De pessoas que percebam que o momento não é de amuos ou de arrogâncias. Que a economia necessita da estabilidade advinda da minoria governamental, fiscalizada por uma oposição que, pela primeira vez, está em superioridade numérica.
Agora, pelo menos, já não há desculpas. A responsabilidade é partilhada. Será mau? Pelo menos não parece.