Livre continua a opor-se à privatização dos percursos pedestres e apela à intervenção da sociedade civil

O Livre reafirmou esta terça-feira que “mantém a sua firme oposição à intenção do Governo Regional de concessionar os percursos pedestres” da Região, considerando que a medida “representa um ataque ao património natural público” e “uma perigosa abertura à mercantilização do território em nome de interesses turísticos imediatistas”.

Numa nota de imprensa divulgada esta terça-feira, o partido apela ainda à assinatura de uma petição pública contra esta decisão da Secretaria Regional do Turismo, Ambiente e Cultura.

Leia o comunicado na íntegra:

“Após as declarações de ontem do Secretário Regional do Turismo Ambiente e Cultura, o LIVRE Madeira mantém a sua firme oposição à intenção do Governo Regional de concessionar os percursos pedestres da Região Autónoma da Madeira a entidades privadas, tal como anunciado pelo Secretário Regional do Turismo, Eduardo Jesus. Esta decisão representa um ataque ao património natural público e uma perigosa abertura à mercantilização do território em nome de interesses turísticos imediatistas.

Mesmo que se alegue que os madeirenses não irão pagar, a concessão privada implica uma lógica de controlo e condicionamento, pois a privatização no dicionário é explícita:

1. Acto ou efeito de privatizar.

2. Processo de passagem para uma empresa privada de bem ou empresa que era estatal.

”privatização”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

O Governo Regional tenta justificar esta decisão com base em modelos internacionais. No entanto, o LIVRE Madeira rejeita essa lógica: as especificidades geográficas, sociais e ambientais da Madeira tornam incomparáveis os exemplos estrangeiros frequentemente invocados. O que pode funcionar noutros países, com dimensões e realidades totalmente distintas, não pode ser aplicado mecanicamente a uma ilha com ecossistemas frágeis e um território limitado.

Alertamos ainda para os perigos associados à mercantilização dos trilhos: a criação de barreiras financeiras ao acesso, a degradação do património natural por exploração excessiva e a exclusão progressiva da população local dos seus próprios recursos naturais.

Além disso, o LIVRE Madeira sublinha que o atual modelo de gestão pública já assegura a possibilidade de financiamento da manutenção e proteção dos percursos. O Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) já cobra entradas em vários trilhos, gerando receita pública que pode — e deve — ser aplicada na preservação, manutenção e defesa dos ecossistemas. Este fundo pode igualmente ser usado para reforçar recursos humanos essenciais, como vigilantes da natureza e polícias florestais, cuja presença no terreno é fundamental para proteger o território e garantir uma gestão equilibrada do turismo de natureza.

O LIVRE Madeira apela à mobilização da sociedade civil, dos autarcas, das associações ambientais e culturais, e de todos os cidadãos e cidadãs preocupados com o futuro da nossa ilha. Nem que seja preciso recorrer a um referendo regional, esta medida deve ser travada. O património natural da Madeira — as levadas, veredas e trilhos — é parte da nossa identidade coletiva e deve continuar sob gestão pública, com acesso livre, seguro e democrático.

O partido questiona ainda a legalidade da medida, nomeadamente a possibilidade de entrega de bens de domínio público natural a entidades privadas para fins comerciais.

Sem qualquer processo de consulta pública transparente, sem avaliação de impacto ecológico ou social conhecida, e sem auscultação das populações locais, esta decisão representa mais uma cedência ao modelo de turismo desregulado que tem contribuído para a sobrecarga de recursos, a gentrificação e a perda de qualidade de vida na Região.

“Quando um Governo abdica da sua responsabilidade de gerir e proteger o território natural, não está a inovar — está a confessar a sua própria incompetência. Privatizar os trilhos é assumir que falhou na sua obrigação mais básica: proteger o bem-comum.” – Marta Sofia

A verdadeira resposta aos desafios do turismo de massas não está em entregar a natureza a operadores privados, mas sim em reforçar a gestão pública, melhorar a fiscalização, distribuir os fluxos turísticos de forma equilibrada e educar para o respeito pelo território.

Apelamos a que se continue a assinar uma petição que está a circular:

https://peticaopublica.com/mobile/pview.aspx?pi=PT125916&fbclid=IwY2xjawLHUXlleHRuA2FlbQIxMQABHtmcoY1zNx-wWl1OsCMfQ-ZJJRRCoCUn6pMWakgabW1AQ9gsaapQljJD_xvO_aem_jTc_lseJQ-a3C4K8j5DG8Q#google_vignette

Privatizar os trilhos é abrir a porta a uma paisagem com dono. E a paisagem da Madeira é, e deve continuar a ser, de todas as pessoas.”

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