Nunca gostei muito de andar com o dicionário às costas. Primeiro porque era dos livros mais pesados que transportava na mochila da escola. Depois, porque demorava um pouco mais do que queria para encontrar a definição da palavra desejada. Era (mais) impaciente, admito.
Para agravar o desdém, jamais encontrei forma de ganhar pontos na nota final com a minha noção enciclopédica. E léxica ou gramaticalmente, ia acumulando sabedoria mais com as companhias do que propriamente nas raras vezes em que mergulhava no livro… O tempo também era pouco, a juventude andava mais na rua.
Por tudo isto, confesso, não gostei nada de saber que um secretário regional entendeu ressuscitar o dicionário. O tal que contribuiu para dores de costas e de cabeça a muito boa gente.
Ainda por cima a despropósito, porque não será necessário pesquisar definições de palavras para constatar o óbvio. Os desabafos e apartes que Eduardo Jesus protagonizou foram errados e despropositados.
A partir daí, desculpas pedidas – embora com delay –, no meu dicionário de rua há outras palavras para apelidar quem tenta se aproveitar da onda de críticas ao governante. Mesmo que justificadas, porque o palavreado que todos conhecem não tem lugar em nenhum lado, muito menos ali, como Eduardo Jesus também sabe.
Um dos problemas colaterais, de resto, nem é o que se disse ou se deixou de dizer. É o que fica abafado perante tamanha gritaria em torno da defesa do bom nome da casa da democracia.
Alguns cidadãos, mesmo os que não são mal informados, já nem se lembrarão que o caso ocorreu na discussão do Orçamento Regional. E o que está no Orçamento? Boa pergunta.
E também não se fala do que foi notícia esta semana no Jornal.
Sobre o aumento brutal de casos de violência doméstica na Madeira.
Da habitação que temos na Região e da que falta construir.
Da importante discussão que importa promover em torno dos beneficiários de subsídios públicos. Só devem receber ou podem ser chamados a contribuir?
Paula Margarido, sem ‘politiquices’, já se manifestou a favor do trabalho. Mas, também aqui, ninguém se entende. Não tem mal, a divergência, apresentada corretamente, fortalece a sociedade.
Importa, aliás, promover a discussão em muitos outros aspetos que ameaçam mudar o território que conhecemos. Porque a ilha do antigamente deve ser preservada com a introdução de novas ferramentas. E a mudança também pode potenciar as tradições e salvaguardar o que nos diferencia. Desde que estejamos de acordo e que nos apercebamos de que é preciso atuar para lidar com o aumento de quem nos procura.
Mas privatizar o que sempre foi público também será difícil encontrar nos dicionários digitais de hoje. Basta seguir o exemplo dos Açores, onde já há horas marcadas para poder desfrutar da natureza sem atropelos. Mas há outros modelos. Como está é que não pode continuar.