Milhares de pessoas manifestaram-se hoje contra Israel no Irão e no Iraque, outrora inimigos, após a oração semanal, segundo imagens das televisões locais e jornalistas em Bagdade.
“Esta é a sexta-feira da solidariedade e da resistência da nação iraniana em todo o país”, disse o apresentador da TV estatal iraniana ao mostrar as imagens das manifestações em Teerão, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
As imagens mostravam manifestantes na capital iraniana com retratos de comandantes mortos desde o início da guerra com Israel, em 13 de junho, enquanto outros agitavam bandeiras iranianas e do Hezbollah libanês.
Na faixa de um manifestante lia-se “Sacrificarei a minha vida pelo meu líder”, em referência ao líder supremo da República Islâmica do Irão, ‘ayatollah’ Ali Khamenei.
Segundo a televisão iraniana, outras manifestações ocorreram em várias cidades do país, incluindo Tabriz, no noroeste do Irão, e Shiraz, no sul.
No Iraque, milhares de manifestantes mobilizados pelo influente dignitário religioso Moqtada al-Sadr reuniram-se em Bagdade e noutros pontos do país para denunciar a guerra de Israel contra o Irão.
Numa larga avenida do bairro pobre de Madinet Sadr, protegida do sol sufocante por um mar de guarda-chuvas, os manifestantes começaram por participar na tradicional oração de sexta-feira, segundo um correspondente da AFP.
“Não, não à América, não, não a Israel”, entoou o imã antes de iniciar o sermão, uma palavra de ordem que os fiéis adotaram sem reservas.
“Não se trata de uma guerra por armas nucleares”, afirmou o motorista de táxi Abu Hussein, 54 anos, denunciando antes “a guerra do diabo” contra a República Islâmica do Irão.
Hussein disse que “Israel e os Estados Unidos sempre quiseram controlar o Médio Oriente” e defendeu que “o Iraque tem de intervir”.
“Com financiamento, com armas, com apoio sob a forma de manifestações”, sugeriu.
Na cidade portuária de Basra, no sul do país, cerca de 2.000 manifestantes concentraram-se numa avenida, segundo a AFP.
O xeque Qussai al-Assadi, um clérigo xiita de 43 anos, chegou a falar de uma “terceira guerra mundial contra o Islão”.
Denunciou também a violação do espaço aéreo iraquiano pela força aérea israelita para atacar o vizinho Irão.
“Israel e os americanos violaram o espaço aéreo e a soberania do Iraque, e nós recusámos estes ataques de ‘drones’ e mísseis”, afirmou.
Citando Moqtada al-Sadr, disse que não queria que “o Iraque fosse arrastado ou transformado num campo de batalha”.
Recentemente retirado da cena política iraquiana, Moqtada al- Sadr convocou a manifestação, a primeira que organiza nos últimos meses em Bagdade e noutras cidades do país.
O líder religioso muçulmano xiita, venerado por dezenas de milhares de iraquianos, não hesitou no passado em criticar a influência das fações pró-Teerão no Iraque fora do quadro do Estado.
Numa declaração de apelo às manifestações, condenou o “terrorismo sionista e americano” e denunciou “a agressão contra os vizinhos Irão, Palestina, Líbano, Síria e Iémen”, referindo-se às operações militares israelitas no Médio Oriente.
Pouco depois da revolução islâmica em Teerão em 1979, o Irão e o Iraque, liderado por Saddam Hussein, travaram uma guerra ao longo da década de 1980, que terá causado mais de um milhão de mortos, segundo estimativas.
Alegando que o Irão estava prestes a adquirir uma bomba atómica, Israel lançou um ataque aéreo maciço contra a República Islâmica em 13 de junho, o que desencadeou a resposta iraniana.
Desde então, tem havido uma sucessão de ataques israelitas contra o Irão e lançamentos de mísseis iranianos contra o território israelita.