Um compromisso com 40 anos!

Sempre achei o processo criativo algo verdadeiramente extraordinário. Uma coisa é repetir rotineiramente tarefas, outra, completamente diferente, é pegar numa folha em branco para produzir algo novo que nunca antes existiu. Foi este o desafio que se colocou à Universidade de Aveiro na elaboração do logótipo dos 40 anos da adesão de Portugal à então Comunidade Europeia. O resultado foi, no meu entender, modesto. Mas cumpre a função a que se destina.

Pelo punho de Mário Soares, a 12 de junho de 1985, assinou-se o compromisso do nosso pequeno país integrar um projeto maior, iniciado com a Declaração Schumann apresentada à Europa e ao mundo a 9 de maio de 1950. Desde então, Portugal nunca mais foi o mesmo!

Na cerimónia oficial que teve lugar na semana passada, no Mosteiro dos Jerónimos, marcaram presença inúmeras personalidades, entre elas, Durão Barroso, que durante uma década assumiu o prestigiante cargo de Presidente da Comissão Europeia. Não é coisa pouca e é algo que nos deveria encher de orgulho, independentemente de preferências políticas. Mas cada um sabe de si e Deus de todos, logo há sempre espaço para elogios e críticas.

Achei interessante, na sua intervenção, a referência ao momento de adesão do nosso país como “um segundo 25 de abril”. De facto, saída da revolução dos cravos, a jovem democracia portuguesa precisava consolidar-se e o reposicionamento geopolítico no continente europeu era o caminho mais lógico para romper com a exclusividade da tradição ultramarina, sem colocar em causa a identidade portuguesa, até porque Portugal sempre foi um país europeu. Nem todos eram dessa opinião e muitos duvidaram desta opção estratégica, mas como referiu o nosso PR na sua intervenção, hoje poucos serão aqueles que ousam dizer que a Europa foi uma má decisão.

A entrada no grupo dos 12 veio acelerar a convergência económica com os países mais desenvolvidos da Europa, ainda que, passado tanto tempo, continuamo-nos a debater com problemas de competitividade da economia, o que não nos tem permitido igualar com os melhores. Ainda assim, as transformações foram imensas e a paisagem de Norte a Sul do país, passando pelos arquipélagos, modificou-se substancialmente. E não se tratou apenas de cosmética territorial, mas de grandes mudanças também no domínio social, na saúde, na educação, etc. Fazer o jogo do “antes&depois” é pura perda de tempo: os indicadores são claríssimos e atestam a melhoria generalizada do país e da qualidade de vida dos portugueses. Limitar a UE aos fundos estruturais é extremamente redutor, mas não resisto a recordar que foram 160 mil milhões de euros (!) que entraram neste pequeno país à beira-mar plantado. Se se utilizou sábia e prudentemente todos esses fundos, isso são contas de outro rosário, mas fica ao critério de cada um o exercício de olhar à sua volta, procurando identificar eventos, estruturas, projetos onde não estejam presentes os fundos europeus. É difícil, não é? Mas isto tem também o seu lado menos positivo, pois fomos nestes 40 anos um beneficiário assíduo desses fundos, ao ponto de hoje praticamente não haver investimento público que não passe pela utilização dos euros de Bruxelas. O desafio do alargamento baterá à porta mais dia, menos dia, e isso trará consigo consequências para as quais teremos de ter a inteligência de nos conseguir adaptar e delas minimizarmos impactos e potencializarmos oportunidades.

Um futuro sólido implica uma visão e uma estratégia de ação que tem de passar obrigatoriamente pela capacidade de ir além das necessidades imediatas do presente. Ora, olhando para o passado recente da região e do país, devo dizer que não estou convencido que tenha sido essa a estratégia dominante. Diz-se que “um objetivo sem planos, não é mais que um sonho”! A questão é: teremos um plano para vingar nesta UE? Em que patamar nos vamos posicionar quando estiverem esgotados os rios de dinheiro concedidos pelo PRR? E em que patamar estarão os outros? Teremos feito as opções mais inteligentes?

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