A Flotilha Global Sumud apelou hoje à comunidade internacional e a organizações de direitos humanos para pressionarem Israel a pôr fim aos “ataques” contra os membros da iniciativa, destinada a levar ajuda humanitária a Gaza.
Numa conferência de imprensa realizada por videoconferência, vários membros do comité diretivo da flotilha – composta por 51 embarcações com cerca de 500 ativistas que partiram de portos de Espanha, Tunísia, Itália e Grécia – alertaram para a possibilidade de novos ataques israelitas “com armas pesadas” nas próximas horas.
A flotilha, que integra três portugueses – Mariana Mortágua, líder do partido português Bloco de Esquerda (BE), o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício – navega desde o início deste mês em direção a Gaza com o objetivo de quebrar o bloqueio israelita e levar ajuda humanitária.
Num comunicado anterior, a organização já tinha advertido a comunidade internacional “sobre informações credíveis de inteligência que indicam ser provável que Israel intensifique ataques violentos contra a flotilha, podendo recorrer a armas capazes de afundar embarcações e ferir ou matar participantes”.
Os membros do comité sublinharam que os ataques da madrugada de quarta-feira, com “14 explosões”, sobrevoo de “drones não identificados” e “interferências nas comunicações” durante a travessia pelo Mediterrâneo, são sinais do “desespero” de Israel perante os “esforços” dos ativistas.
“Os ataques mostram o desespero da entidade sionista em travar os nossos esforços para pôr fim ao genocídio e levar a tão necessária ajuda humanitária a Gaza. Surpreenderia que escolhessem uma resposta diferente”, afirmou Yasemin Acar, integrante do comité.
Por outro lado, num comunicado enviado hoje à agência Lusa, o Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) manifestou “firme repúdio” pelas ameaças proferidas pelo Governo de Israel contra a Global Sumud Flotilla, e bem assim pelos atos de intimidação de que os ativistas têm sido alvo nos últimos dias, e exige do governo português “proteção e coerência política”.
“Portugal deve cessar todas as relações económicas e outras, mormente militares, com Israel, exigir o cumprimento das resoluções da ONU que reconhecem o direito ao retorno dos refugiados palestinianos, desenvolver esforços no sentido da suspensão do Acordo de Associação UE-Israel e a exclusão de Israel do acesso a fundos europeus para programas de investigação e desenvolvimento suscetíveis de utilização para fins militares”, lê-se no comunicado.
No mesmo sentido se pronunciou a direção da flotilha, insistindo que, perante a “situação de alto risco”, a comunidade internacional deve “pressionar no sentido de proteger os participantes” da missão.
O comité diretivo disse ainda ter tomado “precauções imediatas para reforçar a segurança dos participantes”, sublinhando que estes “estão protegidos pelas Convenções de Genebra e pelo direito marítimo internacional” – a flotilha conta com o apoio de duas fragatas italianas e, em breve, uma espanhola.
Israel já garantiu que nenhuma embarcação entrará em Gaza, “uma zona de combate ativa”, pois associa a missão ao movimento islamista palestiniano Hamas, que classifica de “jihadista”, e propõe que a ajuda seja entregue em portos israelitas para ser organizada e distribuída a partir daí.
Os organizadores da flotilha, porém, rejeitaram a proposta e classificaram-na como uma “campanha contínua de intimidação e desinformação por parte de Israel”, destinada a “justificar preventivamente uma ação militar contra uma missão humanitária não violenta conduzida por civis”.