À procura do silêncio

Tento lavrar o silêncio nas paisagens que os meus olhos recolhem, todos os dias. São paisagens tristes, cheias de vazios que perderam o sentido. São lugares do mundo que, às vezes, moram em casas onde vive o medo, a violência, a angústia, o desencanto.

Procuro-o no azul-azul do mar que me sossega, quando a tarde cai e a noite ainda não vem; procuro-o nas igrejas vazias que se abrem à sombra dos dias de verão; procuro-o nos versos dos poetas que falam da minha inquietação; procuro-o nas fronteiras dos dias, quando me benzo e me entrego a Quem é dono do (meu) Tempo. Procuro-o nas pinturas que contemplo e me falam de esperança. Procuro-o em mim, nos momentos em que me permito parar para acolher a vida.

Sempre que o perco, perco-me também.

Sempre que o encontro, planto-o de novo. Sei que ele me ajudará a curar as cicatrizes da terra rasgada de seca; sei que ele me ajudará a enfrentar o horizonte que não domino e o futuro que não conheço. Sei que ele será meu companheiro de ruido, daquele que me quer embriagar de medo e de desencanto. Sei que ele me ensinará a comover-me, a soletrar, outra vez, as palavras do tempo da inocência: mãe, mão, pai, pão.

E fixo, atenta, o desaguar da luz, para me obrigar a guardá-la dentro do peito. Preciso dela nas horas basálticas das indecisões. Preciso da luz que o silêncio me traz, como se o silêncio fosse a fonte do poema ou o traço primeiro do pintor. Preciso dela para acender a escuridão das noites subterrâneas que fazem tremer as paisagens dos nossos olhos.

Preciso de silêncio.

Precisamos todos da luz que o silêncio traz.

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