A escola recomeçou, o período mais longo de férias já acabou, as festas estão a terminar e o verão está a chegar ao fim. Por um lado, para muitas pessoas, a alimentação e o exercício são a menor das preocupações. As rotinas tornam-se mais “stressantes” com o reinício da escola, a pressão do trabalho, novos horários de atividades das crianças e torna-se difícil organizar o tempo. Por outro lado, muitas são as pessoas que notam o aumento de peso e, com a chegada de outubro, sentem a pressão para ‘compensar’ e perder rapidamente os quilos a mais. Procuram dietas rápidas, colocam objetivos altos e sentem o stress constante de cumprir planos alimentares difíceis de enquadrar nas suas rotinas diárias.
A verdade é que, nos dias de hoje, a alimentação vai muito além de uma simples necessidade biológica. É, muitas vezes, o reflexo do nosso estado emocional e mental. Em tempos de alta pressão, o ato de comer pode transformar-se em um momento de stress, frustração e até culpa. Ou é comum que se perca o apetite, resultando numa alimentação deficiente, ou que a comida se torne numa forma de alívio emocional. Uns comem sem prazer e muitos recorrem a alimentos ricos em calorias, em busca de uma sensação momentânea de bem-estar. No entanto, esse conforto imediato é efémero e, a longo prazo, a alimentação descontrolada acaba por intensificar os níveis de stress, afetando não só a saúde física, mas também a saúde mental.
Se arranjar tempo para alimentar-se bem na confusão dos nossos dias é importante, também é fundamental lembrar que a pressa em buscar soluções rápidas pode gerar mais stress emocional e orgânico do que resultados duradouros.
Temos o dever de repensar a nossa relação com a comida. Temos de pensar que somos todos diferentes e que não temos de comer igual a todas as pessoas. É fundamental procurar um profissional de saúde que respeite a nossa individualidade e que, sem dietas demasiado restritivas e stressantes, nos ensine a integrar hábitos alimentares saudáveis na nossa rotina:
• Em primeiro lugar, é importante ter uma alimentação consciente – mindful eating. É essencial não comer de forma automática, saborear cada garfada e aprender a reconhecer os sinais de fome e saciedade. Os estudos mostram que esta técnica pode diminuir a ansiedade e evitar excessos alimentares que são resposta ao stress.
• Criar rotinas alimentares estruturadas, integrando técnicas que nos ajudam na absorção e assimilação funcional dos nutrientes. Planear refeições com antecedência, comer alimentos mais saudáveis e consumir fontes de proteína (como iogurte, frutos oleaginosos, ovo, leguminosas, queijo) em todas as refeições, reduz a fome e a tentação de recorrer a alimentos processados, além de aumentar a serotonina, hormona da felicidade.
• Libertar-se do stress da dieta e de padrões estéticos irrealistas. O stress constante de uma alimentação restritiva, muitas vezes sem resultados aparentes ou duradouros, transforma a alimentação numa fonte de frustração.
• Conhecer os alimentos e optar por opções que reduzem o stress orgânico e emocional. É importante aprender a selecionar alimentos funcionais (alimentos de verdade) e comê-los com frequência para reduzir a inflamação, o cortisol e a resposta ao stress.
Comer deve e tem de ser uma aprendizagem para a vida. A alimentação não deve ser vista como uma fonte de stress, mas como uma ferramenta poderosa para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar geral. Ao praticarmos uma alimentação consciente, ao escolhermos alimentos que nos façam sentir bem e ao respeitarmos nosso corpo, podemos finalmente aprender a comer sem stress e viver de forma mais plena e saudável.
Carina Teixeira escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.