Há algum tempo, escrevi um artigo sobre esta espécie rara que insiste em fazer acontecer.
Hoje apetece-me continuar a desenvolver o tema, porque há tanto que ainda está por dizer.
Vivemos dias em que o foco parece ser ver o outro cair, registar o momento com o telemóvel e partilhar a queda como se fosse espetáculo.
Morre uma pessoa num meio de transporte público e a sociedade simplesmente observa, grava e passa por cima.
É isto que estamos a fazer? Foi por isto que viemos marcar a nossa história?
Temos as prioridades trocadas, vivemos de cabeça virada para o supérfluo, esquecendo o essencial.
Que é feito desta sociedade que tende a fugir das responsabilidades lúdico-sociais, que tem a super tendência de criticar e nada fazer – principalmente de não fazer acontecer no associativismo?
Onde estão os valores e princípios familiares? Já nem falo do resto, pois se não existe base, não existe nada mais.
Hoje, os ditos e cujos “contratos pessoais” são feitos de afrontas, de ameaças puras: “caso não consigas isto, não contem mais comigo.”
E esquecemos o resto.
Sim, o resto – aquilo que é base, a caminhada, o esforço silencioso para chegar onde alguns hoje podem sonhar em estar amanhã. Mas o percurso, esse já não interessa.
O presente é perseguido pelo preso por ter dito e preso por não dito.
Porque o que importa, afinal, é criticar – sem compaixão, de forma o mais destrutiva possível.
Quando o que deviam era dar suporte a esta espécie cada vez mais em vias de extinção, aprender e continuar o seu legado.
Raro é o momento em que podemos privar de algo sui generis, completamente verdadeiro, honesto.
Raro é quando encontramos um Amigo – sim, escrevo com A maiúsculo.
E é aqui que surge a metáfora da espécie rara.
Aquela que resiste, que não segue a multidão, que age quando os outros apenas reagem.
Que não se limita a observar, mas que faz acontecer. Bem ou mal, condicionada ou não, mas faz!
E na história o que fica é o que foi feito, e não o que foi pensado, pois a ação é que deixa legado, não a intenção.
Na ornitologia, e em tantos outros domínios, vemos esta espécie rara tomar forma. Pessoas que não se deixam abalar, que continuam a criar, a preservar, a inspirar.
Porque ser raro é isto: remar contra a maré, mesmo quando a corrente parece esmagadora.
No fim, a espécie rara não é apenas ave.
É a prova de que ainda há quem viva com valores, quem preserve o que importa e quem insista em deixar legado.