Secretário de Estado do Vaticano pede luta contra a indiferença, e paz sem “lógicas de guerra”

O secretário de Estado do Vaticano criticou hoje em Lisboa quem defende a paz mundial e mantém “lógicas de guerra”, defendendo a resolução das causas dos conflitos e a “luta contra a indiferença” que existe.

Discursando em Lisboa, por ocasião do Jubileu das Autoridades, organizado pelo Patriarcado de Lisboa, o cardeal Pietro Parolin recordou que a prioridade da organização “é a evangelização, acompanhada da promoção integral da pessoa humana, que inclui o serviço da caridade e da educação”, e a “intenção de promover um conceito de paz baseado em relações justas”.

Mas “a visão de paz proposta pela Santa Sé vai além da que é delineada pelo direito internacional contemporâneo: acreditamos que nenhum compromisso com a paz — nem mesmo diplomático — pode ser autêntico se mantiver, mesmo implicitamente, ligações com a lógica da guerra”, disse o chefe da diplomacia do Vaticano.

“Promover a paz”, salientou, “não se limita a garantir os sistemas de segurança ou a cumprir as suas obrigações: é também necessário prevenir as causas do conflito e eliminar as tensões culturais, sociais, étnicas e religiosas que podem reacender violência”.

Na cerimónia, na Fundação Calouste Gulbenkian, o cardeal italiano defendeu também a “caridade” em relação ao próximo em vez da “indiferença”, que constitui uma “atitude típica do mundo ocidental”, que funciona como “uma espécie de anestésico perante os problemas”.

“Somos inundados por um fluxo constante de notícias que nos liga virtualmente ao mundo inteiro e nos mostra o sofrimento dos [que estão] sem-abrigo, das vítimas da guerra forçadas a emigrar, dos desempregados, dos mais vulneráveis e daqueles que perderam toda a esperança”, explicou, considerando que se assiste ao “fenómeno da globalização da indiferença”.

Esta indiferença “atua como uma casca protetora que nos permite seguir em frente sem abordar diretamente as tragédias dos outros, considerando-as distantes e fora do nosso controlo”, exemplificou, o que traz o “risco de adormecer a nossa consciência e de nos despojar da nossa humanidade”.

Nessa lógica, “a paz torna-se um problema de outrem, dos poderosos e de quem governa, enquanto que, para os indiferentes, permanece apenas uma utopia”.

Por isso, é “urgente quebrar este ciclo de egoísmo e passividade, passando das teorias abstratas para as experiências concretas de paz, por mais difíceis que sejam”.

“Precisamos de uma nova agenda internacional que coloque a pessoa no centro, com um compromisso real e pessoal com a paz”, acrescentou o cardeal.

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