Avenida da Liberdade voltou a celebrar Amílcar Cabral com música e bandeiras

Manifestantes durante a Marcha Cabral de Portugal, sob o mote ‘“Di Povu pa Povu: Libertação, Dignidade, Soberania Popular’, que assinala os 50 anos das independências das ex-colónias portuguesas - Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.

A Avenida da Liberdade, em Lisboa, encheu-se hoje de bandeiras dos países que há 50 anos conquistaram a sua independência de Portugal, e cerca de 500 pessoas celebraram Amílcar Cabral, símbolo desta independência.

“A solidariedade não é um ato de caridade, mas sim uma ajuda entre as forças que lutam pelo mesmo objetivo” e “Portugal tem de ser anti racista” foram algumas das mensagens que podiam ser lidas em cartazes e faixas exibidos durante a segunda Grandi Marxa Cabral, que começou na rotunda do Marquês de Pombal.

Com quase duas horas de atraso – o início estava previsto para as 14:30, mas os participantes começaram a descer a Avenida da Liberdade pelas 16:00 -, esta iniciativa da Konferénsia Panafrikanu di Lisboa (Conferência Pan-africanista de Lisboa) teve como mote “Di Povu pa Povu: Libertação, Dignidade, Soberania Popular”, tal como se ouviu nos vários cânticos ao longo da avenida que liga a rotunda do Marquês de Pombal à praça dos Restauradores.

Entre os participantes desta Grandi Marxa Cabral, encontrava-se um jovem que usava na cabeça um súmbia, o chapéu que Amílcar Cabral também usava. E para Kumpaku Bua Pogha, “Amílcar Cabral é o internacionalismo, é a luta contra a opressão e contra a exploração, é a liberdade, é a luta contra o racismo, contra a xenofobia, é a emancipação do povo da Guiné, de Cabo Verde, de África e do mundo”.

Cabral “transcende as fronteiras” dos países que conseguiram a sua independência há 50 anos – Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique -, disse ainda Kumpaku Bua Pogha, que acrescentou que estar hoje na Avenida da Liberdade significa “escrever Amílcar Cabral em Portugal”.

No entanto, há um questão apontada pelos manifestantes, relacionada com o desconhecimento da figura de Amílcar Cabral e que Graciete Borges, outra das participantes da marcha e também organizadora, explicou: “Eu nasci em Portugal, mas na escola nunca ouvi falar [de Amílcar Cabral], então para mim tem sido uma descoberta e é fundamental trazermos também aos mais novos essa figura da libertação dos povos africanos”.

Para Graciete Borges, mostrar quem foi Amílcar Cabral é também um dos grandes objetivos desta marcha. “Cabe a nós, às gerações mais novas, dar seguimento daquilo que foi a luta da libertação”, disse.

E na mesma linha, Sumaila Jaló, da Casa da Cultura da Guiné-Bissau, apontou que é preciso continuar a luta que Amílcar Cabral começou, sem esquecer os povos da Palestina e Sudão. “Somos continuadores dessa longa luta que começou nas matas desses países todos e nas zonas urbanas também”.

Ainda no início da marcha, esteve Catarina Martins, eurodeputada do Bloco de Esquerda e candidata à Presidência da República, que definiu Amílcar Cabral como “um dos obreiros da revolução do 25 de Abril”.

“É importante saber o enorme contributo que ele teve numa ideia de luta pela democracia, em Portugal e nos países que estavam a ser ocupados”, disse a candidata a Belém, que recordou também uma frase de Amílcar Cabral: “A minha luta não é contra os portugueses, nós lutamos todos contra o fascimo que oprime todos os povos”.

Catarina Martins quis ainda sublinhar que, numa altura em que se “vivem perigos”, é também importante não esquecer que há “coisas muito bonitas, de pessoas que começaram a ter voz e que estão a mostrar como se pode pensar de outra forma e como celebrar a nossa história no que tem de melhor, sem esquecer ninguém”.

Já para o final da marcha, e tal como aconteceu no ano passado, ficou a leitura da “Segunda Declaração Panafricanista de Lisboa – Cabral Sempre!”, que lembrou que, além da celebração dos 50 anos de independência das ex-colónias portuguesas, é também o centenário do nascimento de Frantz Fanon, psiquiatra, filósofo pan-africanista, pioneiro dos estudos pós-coloniais, símbolo da independência da Argélia.

“O reconhecimento e a inscrição concreta da figura de Amílcar Cabral e dos movimentos africanos de libertação na memória e na história da democratização de Portugal, nos manuais escolares, nas datas comemorativas, em monumentos e nos discursos políticos são formas de reparar a própria história do país e honrar a memória e o trabalho por ele desenvolvido em Portugal”, refere o documento.

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