José Sócrates decidiu hoje que vai interromper as suas declarações em tribunal no âmbito do julgamento do processo Operação Marquês, pediu uma data à juíza para voltar a falar e negou intervenção no concurso do TGV.
Na décima sessão de julgamento, e depois de nove sessões a prestar declarações, o antigo primeiro-ministro disse ter decidido que não vai continuar a falar depois do dia de hoje, alegando cansaço e deixando para mais tarde o resto do seu depoimento perante o coletivo de juízes.
“Eu não posso continuar assim, isto assim não pode durar sempre. Deliberei que não faço mais declarações” a partir de hoje, disse José Sócrates, acrescentando não querer falar “à pressão”, nem admitir “que o tribunal seja tão violento”.
José Sócrates sugeriu, “para se defender fisicamente”, terminar hoje as suas considerações até 2011, ano em que deixou o cargo de primeiro-ministro e pediu à juíza presidente do coletivo “que diga um dia para voltar”.
Nesse dia a definir, Sócrates prometeu falar sobre o caso das casas da sua mãe, o apartamento de Paris, os empréstimos de Carlos Santos Silva e ainda sobre “a tal fortuna escondida”.
Tal como tem acontecido nas sessões anteriores, o ex-primeiro-ministro, agora acusado de 22 crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, tem negado todos os pontos da acusação deduzida pelo Ministério Público.
Hoje, além de ter voltado a negar ter recebido dinheiro do seu primo e também arguido José Paulo Pinto de Sousa, o ex-primeiro-ministro apontou o dedo aos procuradores do Ministério Público e chegou a pedir aos três magistrados que apresentem provas, um “pedido insistente”, sublinhou o procurador Rómulo Mateus.
“O tal caminho do dinheiro é uma loucura tão grande, a vontade de acusar era tanta, que identificaram uma transferência e viram à volta o que aconteceu”, considerou José Sócrates.
José Sócrates negou qualquer interferência no negócio da concessão do TGV, tendo mesmo dito que se limitou a presidir ao Conselho de Ministros em que o projeto foi aprovado. “O senhor procurador achou que devia atribuir-me toda a intenção dessa resolução”.
O antigo primeiro-ministro é um dos 21 arguidos da Operação Marquês e responde maioritariamente por corrupção e branqueamento de capitais.
Os 21 arguidos têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que globalmente lhes são imputados.
O julgamento começou em 03 de julho no Tribunal Central Criminal de Lisboa.