A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional defendeu hoje que Israel tem de revogar de imediato a ordem de deslocação em massa dos residentes na Cidade de Gaza, considerando-a cruel e ilegal.
“A ordem emitida pelas forças armadas israelitas para a deslocação em massa dos residentes da Cidade de Gaza é cruel, ilegal e agrava ainda mais as condições genocidas de vida que Israel está a infligir aos palestinianos”, afirmou a diretora regional para o Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional, Heba Morayef, em comunicado hoje divulgado.
“Para as centenas de milhares de palestinianos na Cidade de Gaza que, de há quase dois anos a esta parte, vêm suportando bombardeamentos implacáveis enquanto passam fome e vivem amontoados em campos improvisados ou refugiam-se em edifícios sobrelotados, esta é uma repetição devastadora e desumana da ordem de deslocação em massa emitida para toda a zona norte de Gaza, a 13 de outubro de 2023”, lembrou.
O porta-voz do Exército israelita em árabe, Avichay Adraee, ordenou, na terça-feira, o abandono da cidade por todos os residentes da Cidade de Gaza antes da ofensiva militar de Israel para tomar a capital do enclave palestiniano.
Uma ordem que, segundo a Amnistia Internacional, viola o Direito Internacional Humanitário e constitui um crime de guerra e contra a humanidade.
Esta ordem, adiantou a organização, prova que o objetivo de Israel é o genocídio dos palestinianos.
“A Cidade de Gaza, que possui um património que remonta a milénios e já sofreu danos devastadores, enfrenta agora a destruição total. É evidente que Israel está determinado a perseguir o seu objetivo de destruir fisicamente os palestinianos na Faixa de Gaza”, acusou Heba Morayef.
Para a responsável, é inconcebível que os Estados com influência sobre Israel “continuem a fornecer armas e apoio diplomático para destruir vidas palestinianas” e que haja “empresas e investidores [que] continuam a lucrar com o genocídio de Israel”.
Por isso, a Amnistia Internacional instou os mais próximos de Israel a pressionar o Estado para que ponha “fim imediato à campanha genocida” e “permita o acesso humanitário total aos civis de Gaza” sob pena de se tornarem “cúmplices do genocídio”.
Já na sexta-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tinha apelado aos habitantes da Cidade de Gaza para que se retirassem imediatamente da zona, adiantando que, daí a dois dias, o Exército iria destruir 50 torres terroristas.
“Este é apenas o início da intensificação das operações terrestres na Cidade de Gaza. Digo aos residentes: foram avisados, saiam já!”, avançou na altura Netanyahu, num vídeo divulgado pelo seu gabinete.
O objetivo anunciado pelo Governo israelita é eliminar as últimas bolsas de resistência do Hamas e recuperar os 48 reféns que conserva na sua posse, dos quais se calcula que 20 estejam vivos, antes de entregar a gestão do território a entidades civis que não sejam hostis a Telavive.
A guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque liderado pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que fez 1.200 mortos, na maioria civis, e no qual foram feitos 251 reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva em grande escala no enclave palestiniano, que matou mais de 64 mil mortos, na maioria mulheres e crianças, segundo dados das autoridades locais controladas pelo grupo islamita, mas consideradas fiáveis pela ONU, e provocou um desastre humanitário sem precedentes na região.