O candidato presidencial António Filipe considerou hoje que a criação, pelo Governo, de uma comissão para comemorar os 50 anos do 25 de Novembro de 1975 serve para fazer “um ajuste de contas com o 25 de Abril”.
Em declarações à agência Lusa antes de um encontro com a Associação 25 de Abril, em Lisboa, António Filipe considerou que “as pessoas que criam esta comissão para celebrar o 25 de Novembro gostariam de criar uma comissão para comemorar o 24 de Abril, mas o descaramento não chega aí”.
O candidato presidencial, apoiado pelo PCP, considerou que a comissão em questão não irá servir para “ter uma análise rigorosa, histórica, das várias datas que sucederam ao 25 de Abril, entre elas o 25 de Novembro, mas para fazerem um ajuste de contas com o 25 de Abril e com o espírito do 25 de Abril”.
“E, daí, só posso lamentar a criação desta comissão”, disse.
Questionado qual seria a sua postura caso fosse Presidente da República perante a criação desta comissão e a celebração desta efeméride, António Filipe respondeu que “o Presidente da República não tem de assumir nenhuma atitude em relação a isso”, porque se trata de uma decisão do Governo.
“Eu não participaria, em princípio, nessas comemorações, dependendo naturalmente da configuração que elas tivessem, mas a democracia celebra-se com o 25 de Abril, celebrando o 25 de Abril. (…) Eu não substituiria o 25 de Abril por nenhuma outra data”, sublinhou.
Sobre o seu encontro com a Associação 25 de Abril, onde foi recebido pelo Capitão de Abril Vasco Lourenço, António Filipe disse tratar-se de uma visita de “consideração e de apreço”, salientando que tem “dois heróis” na sua vida: “os resistentes antifascistas e os militares de Abril”.
“E a Associação 25 de Abril representa os militares de Abril, que tiveram uma importância decisiva no que veio a ser o meu percurso de vida em democracia, sendo que reivindico na minha candidatura o apego aos valores de Abril e a identificação profunda com os valores de Abril”, frisou.
Questionado sobre como é que viu a recusa do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, em demitir-se já do cargo, após o descarrilamento do Elevador da Glória, António Filipe não quis comentar a situação, salientando que isso é do “terreno autárquico” e “os candidatos a Presidente da República não são candidatos a nenhuma Câmara Municipal”.
No entanto, o candidato presidencial considerou que, “obviamente, perante qualquer situação grave que ocorra, o apuramento de responsabilidades é uma obrigatoriedade”, mas ressalvou que não pretende entrar no debate político sobre essa matéria.
“Manifestei a minha consternação pelo acidente, a minha solidariedade para com os familiares dos falecidos, a minha solidariedade para com os feridos e desejei que houvesse um apuramento cabal de todas as responsabilidades. Mais do que isso, entendo que não devo dizer”, referiu.
Em 28 de agosto, o Governo, reunido em Conselho de Ministros, aprovou a criação de uma comissão para promover e organizar as celebrações do 50.º aniversário da operação militar do 25 de Novembro de 1975.
Em conferência de imprensa na altura, o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, explicou que os trabalhos desta comissão irão começar em novembro, para que as datas que “só foram possíveis pelo 25 de Novembro” possam ser “suficientemente assinaladas”.
“O Estado cumprirá a sua obrigação para com uma data que é fundamental para a consolidação da democracia e liberdade em Portugal. Nós temos consciência de que o 25 de Novembro devolveu ao 25 de Abril o seu propósito originário”, defendeu Nuno Melo na altura.