O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, garantiu hoje que demite-se de funções se alguém provar que o descarrilamento do Elevador da Glória, em que morreram 16 pessoas, decorre de um erro da sua responsabilidade.
Em entrevista à SIC, a primeira dada a um órgão de comunicação social desde o acidente no dia 03 de setembro, Carlos Moedas afirmou que “nesta tragédia não há nenhum erro que possa ser imputado a uma decisão do presidente da Câmara”.
“Se alguém provar que alguma ação que eu tenha tido, algo que eu tenha feito como Presidente da Câmara em relação a esta empresa [Carris] levou a que esta empresa não gastasse o suficiente em manutenção, que esta empresa não fizesse aquilo que tinha que fazer, eu demito-me no dia”, afirmou.
Carlos Moedas lembrou que a Câmara de Lisboa é acionista da Carris, mas não gere a empresa, salientando que, enquanto acionista, a autarquia tem uma estratégia para a mobilidade da cidade e fornece recursos à empresa de transportes.
De acordo com o presidente da Câmara de Lisboa, a autarquia deu recursos à transportadora para “aumentar o seu orçamento em 30%”, apontando que “isso são dados de responsabilidade política”, e afirmou que passou os últimos quatro anos “a investir em Lisboa para uma melhor mobilidade” através da aquisição de 114 autocarros e 15 elétricos.
“Esta empresa teve os recursos que foram dados pela Câmara exatamente nessa responsabilidade política. Portanto, eu não preciso de eleições para essa responsabilidade política”, afirmou.
Confrontado com as palavras do Presidente da República, que defendeu que Carlos Moedas é politicamente responsável e que os lisboetas farão o devido julgamento político nas próximas eleições autárquicas, Carlos Moedas voltou a lembrar que a autarquia é acionista e não interfere na gestão da Carris.
Afirmou, por outro lado, que não irá permitir que o vice-presidente Filipe Anacoreta Correia se demita de funções, uma vez que é quem tem a tutela dos transportes, defendendo que seria “uma cobardia alguém se demitir”, estendendo a justificação ao presidente da Carris.
Afirmou que a sua prioridade no dia do acidente foi estar no terreno, “numa das situações mais difíceis que Lisboa já viveu” e não falar com políticos ou responder a perguntas de jornalistas, apontando que têm sido “dias de luto”, nos quais a sua preocupação tem sido procurar dar uma resposta às famílias das vítimas.
Aproveitou para destacar que o relatório preliminar sobre as causas do acidente demonstra que não houve erro humano e afirmou que o guarda-freio André Marques, uma das vítimas mortais, foi um “herói”, que “lutou com a sua vida para proteger as pessoas”.
Disse, por outro lado, ter ficado magoado com o aproveitamento político que tem sido feito do caso, acusando o Partido Socialista de ser “dissimulado” e “cínico”, ao ter uma candidata à autarquia que não pede diretamente a sua demissão, mas que depois “encarrega todos os seus sicários e todos os seus apoiantes para virem por trás”.
Carlos Moedas deixou a garantia de que irá fazer tudo para apurar as causas e as responsabilidades e lembrou, a propósito, que não existe qualquer relatório sobre o acidente que envolveu o Elevador da Glória em 2018, e que poderia agora “ajudar para que não se voltasse a repetir”.
Relativamente aos restantes elevadores que funcionam na cidade, o autarca explicou que a decisão para que parassem e fossem avaliados foi para transmitir “tranquilidade, serenidade e capacidade de decisão” a todos os cidadãos, reafirmando que são feitas vistorias diárias.
O elevador da Glória, em Lisboa, descarrilou na quarta-feira passada, causando 16 mortos e 22 feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
O elevador da Glória é gerido pela Carris, liga a Praça dos Restauradores ao Jardim de São Pedro de Alcântara, no Bairro Alto, num percurso de cerca de 265 metros e é muito procurado por turistas.