Incêndios: Associação reclama bombeiros profissionais em todos os concelhos

É necessário “reforçar a ideia de que é preciso que se criem mais profissionais em Portugal” .

O presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) reclamou hoje a instalação de sapadores camarários em todos os municípios para combater os incêndios no verão e promover o ordenamento do território durante o inverno.

É necessário “reforçar a ideia de que é preciso que se criem mais profissionais em Portugal” e “este ano, mais uma vez, ficou provado que é necessário criar equipas de bombeiros profissionais em cada município”, afirmou, em entrevista à Lusa, Fernando Curto.

A criação de estruturas profissionais de bombeiros iria permitir que os sapadores “atuassem quando tivessem que atuar” contra o fogo, ficando o resto do tempo focado na prevenção, procurando sensibilizar os proprietários, fiscalizar limpezas, construir aceiros e pontos de água ou promover comportamentos cívicos na gestão das florestas.

Quando não fosse a época alta de fogos, caberia aos sapadores o “papel pedagógico, no âmbito do município”, de promover o ordenamento do território, disse o dirigente, que minimizou o custo destas corporações profissionais.

“Só nos prejuízos da floresta deste ano já vão 600 milhões de euros. É muito dinheiro e esse investimento devia ser feito”, resumiu.

Por outro lado, iria permitir fixar quadros qualificados nos municípios do interior e criar uma “nova cultura municipal” focada na proteção civil e no ordenamento do território.

“Se o presidente de Câmara tiver à sua disposição uma equipa de bombeiros de sapadores, é ele que manda neles, tem de criar um plano no âmbito do próprio serviço municipal de proteção civil para fazer prevenção e combate, quando é necessário”, explicou Fernando Curto, admitindo que cada caso será um caso.

“Haverá municípios que precisam de cem sapadores e há outros que precisam de 30”, podendo ainda ser promovidas sinergias entre concelhos vizinhos.

Quanto ao custo, “o Governo terá a obrigação de procurar verbas para pagar essas corporações”, porque os “incêndios estão a destruir o país”.

“Se contabilizarmos tudo aquilo que são os custos e os prejuízos que os incêndios dão, seria possível criar sapadores bombeiros quase em todos os cantos do país”, salientou Fernando Custo, considerando que o mais importante é “vontade política”.

Esta opção pela profissionalização não colocaria em causa as associações de voluntários existentes, que se poderiam “dedicar-se, e bem, ao serviço de saúde e à condução de doentes”, como sucede em Espanha ou França, além de “ajudarem no combate aos incêndios.

Hoje, no contexto social português, “ser voluntário e ser bombeiro é uma utopia” e a “disponibilidade é sempre difícil de assegurar”, reconheceu Fernando Custo.

Mas se derem força aos profissionais, “vão ver que o voluntariado cresce”, porque a responsabilidade passará a ser “mais complementar”.

No início do ano, as reivindicações dos bombeiros profissionais tiveram muito foco mediático, com um pacote de reivindicações que já foram parcialmente aceites, segundo Fernando Curto.

“Ainda se está a negociar, já há sapadores em todo o país e o Governo tem mostrado abertura na questão da profissionalização” da atividade, explicou o dirigente, recordando que o executivo tem dito que “as equipas de primeira intervenção dos bombeiros seca profissionais”.

Sobre os incêndios deste verão, Fernando Curto apontou vários problemas no combate, desde o atraso no pedido de ajuda internacional à falta de organização interna.

Numa altura “em que estávamos a ter incêndios como uma copa superior à das árvores ainda se discutia se deveríamos pedir ajuda? Foi falta de vontade política. Sejam mil ou três mil bombeiros, não há condições para intervir se não houver um trabalho conjugado operacional e organizado com os meios aéreos”, explicou.

Por outro lado, há vários registos de colunas de bombeiros que vieram auxiliar o combate ao fogo e que não tiveram o apoio adequado.

Quando chegam bombeiros de outras zonas, “tem de haver obrigatoriamente sempre um guia que os encaminhe e que vá com essas equipas para progredir no terreno. Se não for assim, temos carros que capotam, colunas perdidas e viaturas que não chegam”, salientou.

Além disso, Fernando Curto criticou o facto de os rescaldos serem consolidados por bombeiros, que deveriam estar a combater noutro local.

“Se não houver um rescaldo bem feito e efetivado, a probabilidade de um incêndio florestal, com ventos e com temperaturas elevadas, se reacender o incêndio é mais que absoluta”, mas esse trabalho pode ser feito por sapadores florestais e militares, disse o dirigente.

Esse é um “trabalho que deve ser coordenado, tendo como referência libertar os bombeiros para ir para a frente do fogo”, referiu, sublinhando que, sem uma alteração de procedimentos, “só deixará de haver fogos em Portugal quando não houver floresta”.

Finalmente, Fernando Curto criticou o problema do ordenamento e a falta de limpeza.

“Nas florestas que arderam, os bombeiros não chegavam com uma viatura normal ao topo das serras. Como é que é possível combater? Se um jipe não chega lá, como é que pode ir um veículo pesado de combate?”, questionou.

No próximo dia 11, a ANBP celebra o Dia Nacional do Bombeiro, uma data instituída aquando do ataque das Torres Gémeas nos Estados Unidos, e que será uma oportunidade para reforçar estas reivindicações a par da criação de “uma carreira única de bombeiro sapador em Portugal”, acrescentou ainda.

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