O Mundo

O Mundo gira incessantemente, cumpre o seu desígnio sem se importar com nada do que lá ocorre.

O absurdismo de Camus em o Mito de Sísifo, a nossa tentativa de dar significado e sentido a tudo, perante um Mundo que é completamente indiferente a isso.

Pare um momento, respire profundamente, contemple o céu, é extraordinário observar o Mundo a girar, foi assim naquele dia fabuloso em que experienciou um momento de felicidade extrema, e assim foi naquele dia em que o chão parece ter fugido por debaixo dos seus pés e que caiu no mais profundo poço de dor e tristeza. Este alheamento do Mundo à existência individual, não é mais do que resposta e exemplo da necessária aceitação e desprendimento para uma existência completa.

A vida é demasiado breve, e dedicamos demasiado tempo a insignificâncias, daí o aforismo de Séneca na sua “De Brevitate Vitae” – “não é que tenhamos um tempo breve de vida, mas sim que desperdiçamos imenso tempo”.

Entra aqui o conceito de relatividade e finitude, tendo como variável esse que é o factor que silenciosamente nos guia, o Tempo. E o grande desafio é o de passar, da “grande corrida” para o nada, à contemplação da beleza da existência. Dedicarmo-nos ao que é relevante e construtivo, o fazer o Bem, um caminho de Virtude e Verdade, relevando o acessório, e o que não controlamos.

Desacelere, o mundo continua na sua viagem a velocidade constante.

Porquê acelerar a sua vida com afazeres secundários, com preocupações e problemas, que na maior parte nem são seus, são-lhe veiculados e impostos pelos media (que buscam audiências e que conhecem bem essa fraqueza humana, que é o de deambular nos problemas) numa óptica de criação de alarme social e medo que leva ao consumismo, os media com noticias alarmistas a cada segundo, existem para criar disrupção da realidade, com objectivos comerciais, por isso é que não passam notícias positivas nos media.

Observemos, as guerras que ocorrem no planeta, e o Mundo continua a girar; a fome que assola mais de 8% da população Mundial marcadamente numa África Subsariana vetada ao abandono por todos, e o Mundo continua a girar; a alteração do padrão climático, e o Mundo continua a girar; agora recentemente os incêndios, e o Mundo continua a girar…

Não é encarar todas estas situações numa perspetiva de minoração da relevância destes eventos ou do seu impacto, mas sim um reconhecimento cabal de impotência e de necessidade de recentrar e explorar a nossa capacidade de contemplação e aprendizagem continua.

”laissez faire, laissez passer, le monde va de lui-même”. Há de facto uma arquitetura maior que não conhecemos e por ora não dominamos.

É fútil sequer pensar na existência de algum poder individual para mudar o rumo ou o curso do Mundo! No entanto reside numa vontade e sonho coletivo a concretização de um Futuro melhor. E para o que não controlamos e não temos qualquer hipótese de o fazer, é concretizar um exercício de aceitação.

Vivemos demasiado a frustração do que poderia ter sido, pois, o que foi feito foi o único que poderia ter ocorrido neste plano, deambulamos nos problemas, dedicamo-nos pouco às soluções, residimos num falso “amor fati”, isto é, falamos em destino e fado, mas não o aceitamos na realidade, vivemos a frustração dos “e se”, as hipóteses do que poderia ter acontecido são tão atrativas que, observem, as noites noticiosas tem painéis de especialistas sobre painéis de especialistas, a debater o que não aconteceu. O verdadeiro” Amor Fati” é aceitação integral da vida e das suas vicissitudes, e esse é um desígnio claramente superior e difícil de alcançar, desengane-se quem considera tratar-se de uma derrota, mas trata-se sim, de sabedoria e maturidade.

Não se esqueça, o Mundo continua a girar.

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