As imagens que nos chegam diariamente são dolorosamente trágicas: florestas em chamas, casas destruídas, famílias desalojadas, vidas perdidas. Portugal é, de novo, consumido pelo fogo. E, como nós, vários países europeus enfrentam o mesmo destino: Espanha, Grécia, Itália e França. A Europa arde todos os verões e, ainda assim, continuamos a reagir como se o drama fosse inesperado. Mas não, o que já se tornou verdadeiramente expectável são os incêndios, o inferno das chamas e a falha de meios de resposta necessários e adequados durante o período estival.
Em Portugal, o Mecanismo Europeu de Proteção Civil foi acionado tarde demais, infelizmente quando já havia vítimas mortais a lamentar. E essa demora, essa hesitação, custa vidas, território e recursos. É impossível não registar a ironia da linha temporal: o país a arder, meios a falhar, famílias em desespero, bombeiros extenuados e o chefe de Governo ausente, em férias e em festa. Não questiono a importância do descanso e das férias do Primeiro-Ministro. Mas quando o país está em chamas, quando há vidas a lamentar, quando populações inteiras se veem aflitas a salvar o fruto de uma vida, ou de várias gerações, e autarcas desesperam com parcos meios, é essencial que o governo demonstre liderança. São já milhares os operacionais (incansáveis) no terreno, mas a resposta tarda.
Enquanto eurodeputada, garanti que a União Europeia tivesse mais meios aéreos próprios, reforçando o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e reduzindo a dependência exclusiva da disponibilidade dos Estados-Membros. Foi um passo importante para assegurar que os meios existem. Mas de pouco serve termos aviões prontos se não são acionados a tempo. De pouco serve termos tecnologia, ciência e recursos se a decisão política falha na rapidez e na sensatez.
Todos os verões, a mesma tragédia: incêndios. Falhas. Lamentos. Esquecimento. Escrevem-se textos, fazem-se promessas, multiplicam-se conferências de imprensa. E, ano após ano, a reação vem tarde. E a atualidade é ainda mais sombria: as alterações climáticas estão a ser cada vez mais empurradas para segundo plano na agenda política. Apesar de estarem no cerne dos nossos problemas coletivos, como as secas prolongadas, ondas de calor, tempestades extremas, aluviões e incêndios cada vez mais violentos, passaram a ser tratadas como tema lateral, quando deveriam ser prioridade central.
Com tanto conhecimento científico e tecnologia ao nosso alcance, temos tudo para viver melhor, com mais qualidade de vida e segurança, para nós e para o planeta que habitamos. Mas, ao invés, insistimos em adiar decisões, como se houvesse sempre um amanhã para corrigir o que se poderia ter feito ontem. As reformas existem no papel, mas raramente chegam ao terreno. A prevenção continua a ser vista como despesa e não como investimento em vidas, recursos e património.
Ironia das ironias: projetamos colónias no espaço, mas falhamos em cuidar da nossa própria casa. E é essa dureza que nos deve fazer regressar ao essencial: proteger o território, investir em prevenção, reforçar meios, ativar cedo a cooperação europeia e colocar as alterações climáticas no centro da ação política.
Não se trata apenas de hectares de floresta ou de casas e estradas destruídas. Trata-se de pessoas. De comunidades. De vidas. Cada minuto perdido na decisão política é um minuto roubado à segurança de todos.