O norte-americano Nelson de Mille, a propósito da emigração irlandesa, escreveu no seu livro “Catedral”: “Grande praga que varreu a terra, levando o primogénito, o mais inteligente, o mais aventuroso, deixando os velhos, os doentes, os tímidos, os satisfatoriamente ricos, os desesperadamente pobres”.
Os que saíram da Madeira, dos nossos Melhores, deixaram um vazio que ajuda a explicar o grande atraso do Arquipélago até à Autonomia Política arrancar.
Hoje, a transformação da nossa terra, uma Revolução Tranquila, não dispensa também a reflexão Emigração/Imigração, opostas e em tempos opostos.
Já expliquei que um dos pilares da Estratégia montada para um rápido Desenvolvimento Integral da Madeira, foi o reestabelecimento de laços forte com as Comunidades Madeirenses a partir de 1976.
A Emigração constituía uma situação a reconciliar.
Conseguido, desde as Pessoas ao Investimento.
Não foi fácil. Os Madeirenses estavam justamente zangados com Portugal. Foram a ditadura, a guerra, a miséria do feudalismo económico-social e a incultura, etc., etc., que a “Madeira Velha” estampava.
Lembro-me que o Governo Regional convidou para a inauguração da “via rápida” Funchal-Ribeira Brava, por ser de aqui, um dos donos da então maior cadeia de supermercados da Venezuela, a “Central Madeirense” e também Banqueiro. Percorrido o trajecto e no fim da cerimónia, deu-me um abraço e disse: “- Tenho de pedir-lhe desculpa. É que quando me comunicou, em Caracas, que iam fazer * isto, pensei que era mais uma “conversa” como antigamente…”.
E logo arrancou com um novo hotel, mão dadas com um outro Grupo Económico também oriundo da Emigração, hotel hoje totalmente no Grupo Pestana, pois dizia o Senhor, “isto é para o Dr. Dionísio, eu percebo é de supermercados”.
Passaram 50 anos.
Com a Revolução Tranquila, agora o problema que passou ao primeiro plano é o da Imigração.
Crescemos e precisamos de quem trabalha, já que o Sistema Político português, ultrapassado e económico-socialmente moribundo, ainda permite que quem pode, mas não quer trabalhar, viva à custa dos que trabalham. Permite invasões migratórias que a dimensão territorial não comporta. O “politicamente correcto” é esgrimido em favor de um retrocapitalismo que quer importar mão-de-obra barata e pagar salários baixos. E em favor de uma pseudo- “esquerda” fascista que se alimenta dos votos dos mais desfavorecidos.
Toda esta gente chama “xenófobo” a quem lhes “descobre a careca”!…
E mais. Os políticos (?) proprietários do Sistema Político procuram secundarizar a Emigração trágica dos Quadros jovens formados com grande Qualidade nas nossas Universidades!
Defendo o Primado da Pessoa Humana. Que não é “o indivíduo”, mas um Ser racional interagindo com as Comunidades onde se insere, através de Direitos e de Deveres.
O Estado e as restantes Instituições, públicas e privadas, todas e cada uma que com objectivos legítimos, estão ao Serviço da Pessoa Humana. Do Desenvolvimento Integral Desta. Que só o é, se simultaneamente aperfeiçoamento ético-cultural, social e económico.
Porque estão ao Serviço da Pessoa Humana, os Estados, as Regiões, as Autarquias, etc., têm de se ordenar e de se organizar para tal objectivo.
Assim, as Comunidades têm de legislar em vista do que de legítimo pretendem, tendo em conta os meios de que possam dispor e as características e dimensão do Seu Território.
Ora, sendo os regimes democráticos os menos imperfeitos dos regimes políticos, cada Estado democrático tem o Direito e o Dever de, face às realidades imigratórias, encontrar as soluções adequadas à vida em sociedade não cair em regressão.
Por isso cada Estado, deve acautelar sempre o Primado da Pessoa Humana, recebendo os Imigrantes que são necessários ao Seu projecto de Desenvolvimento Integral e, a partir de aqui, igualizá-Los aos naturais e residentes.
Haja juízo e não se caia em demagogias beatas e destituídas cientificamente de crédito económico-social.
Numa Comunidade, o Dever de ajudar o Próximo não se traduz em pôr pior os que lá estão e continuarem mal os que chegam.
Este eventual retrocesso do Primado da Pessoa Humana, é uma involução económico-social que acarreta futura implantação de regimes totalitários, logo futuras condições de vida piores e indignas. Tudo nascido das demagogias absurdas do mito igualitarista. Quando, na Terra, não há duas pessoas iguais… e quando é legitimamente diferente a Identidade civilizacional e cultural de cada Comunidade.
Esta questão da Imigração resolve-se em duas vertentes de Bom-Senso.
Primeiro. As Democracias terem inteligentemente a noção de quantos estrangeiros e respectivas Famílias – não é legítimo separar os membros Destas – precisam para prosseguir, nesse Estado, o respectivo Desenvolvimento Integral, já contando, a par, com o pôr a trabalhar os que o podem fazer, mas não querem.
No caso português, sem as fantasias de uma “comunidade de língua portuguesa” – mitologia do saudosismo colonial de Lisboa – quando tal prioridade não seja a melhor para o pretendido.
Segunda vertente. Planos universais – sem a incompetência grotesca das Nações Unidas – para o apoio efectivo e distributivo aos Cidadãos dos Países mais necessitados. Cuja Dignidade exige, sim, que as soluções sejam aí encontradas e desenvolvidas, em vez de serem mão-de-obra barata e deslocada no Hemisfério Norte.
É bom que as Democracias se cuidem e se lembrem da canção francesa: “Mais il est bien court le temps des cerises…”.
* “Iam fazer”. Nós todos, o Povo Madeirense, os meus Governos, os Autarcas, etc. Um coitado anda para aí a dizer que fez tudo, um “Gonçalves Zarco n. º2”, para risota geral.