A espécie em extinção que insiste em fazer acontecer

Dirigente associativo. Um cargo nobre, cada vez mais raro, quase em vias de extinção.

Falo do verdadeiro dirigente, aquele que vive para o contexto lúdico, social, desportivo, educativo e cultural, e que, por pura paixão, se entrega de corpo e alma a causas que nem sempre lhe retribuem o mesmo.

Não é de agora que o digo: já percorri várias áreas e vi de perto o que custa a quem insiste em manter viva esta chama. Ser dirigente associativo é vestir a capa de um super-herói invisível — mas sem poderes mágicos e sem ordenado. É viver de horas roubadas à família, de folgas sacrificadas, de noites mal dormidas. É garantir que tudo acontece, que nada falha, mesmo quando o mundo parece conspirar contra si.

E aqui, permitam-me, há uma verdade que incomoda: muito se fala do apoio político — sim, ele existe, e por vezes é vital —, mas é nos corpos sociais e nos dirigentes que recai o peso da execução. Muitos assumem o cargo sem experiência, apenas pela paixão que sentem. Aprendem no terreno, tropeçam, caem, levantam-se. São líderes feitos na superação diária das dificuldades.

Do futebol à ornitologia, vejo todos os dias grandes impulsionadores abandonarem as suas modalidades. Umas vezes por dificuldades financeiras e logísticas, outras pelo desgaste emocional e pelo peso de um mandato inteiro de trabalho… e outras, tristemente, pela crítica destrutiva que a sociedade insiste em infligir.

E que fatura cruel essa!

As redes sociais deram palco a quem nunca teve coragem de fazer, mas não hesita em destruir. Por detrás de um ecrã, escondem-se aqueles que, incapazes de mover um dedo para criar, preferem gastar energia a minar quem cria. E não falamos de críticas construtivas, próprias de uma conversa de melhoria — falamos de ataques pessoais, de maledicência constante, 365 dias por ano.

Ainda assim, o dirigente associativo resiste.

Com o peito aberto, o olhar firme e a convicção de que, apesar de tudo, vale a pena. Porque cada evento, cada sorriso, cada jovem afastado de maus caminhos, cada idoso que revive memórias, cada momento de união comunitária… são a prova viva de que este trabalho, feito pro bono e à custa de muito, faz diferença.

O dirigente associativo não precisa de aplausos.

Precisa apenas que o deixem trabalhar — e que, em vez de pedras no caminho, haja mais mãos a ajudar a construir.

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