Os ciclones tropicais, vulgarmente conhecidos como tufões ou furacões, podem formar-se em grupos o que tem ocorrido com maior frequência no Atlântico Norte nas últimas décadas e deverá manter-se num futuro próximo, confirma um novo estudo.
Os “aglomerados” de ciclones tropicais, quando dois ou mais furacões ocorrem simultaneamente na mesma bacia, não são um fenómeno raro, dado que historicamente apenas 40% deles surgiram isoladamente.
A investigação, cujos resultados foram publicados na revista Nature Climate Change, estabelece um modelo probabilístico de referência para investigar eventos de aglomerados de ciclones tropicais e os seus mecanismos físicos subjacentes.
Além dos impactos combinados das tempestades individuais, os aglomerados de ciclones tropicais podem causar danos desproporcionados, uma vez que as comunidades costeiras e as infraestruturas necessitam de tempo para recuperar do impacto da primeira tempestade, pelo que compreender o fenómeno é fundamental para a gestão dos riscos costeiros, indicou hoje a agência noticiosa privada espanhola Europa Press.
Um comunicado da Universidade de Fudan, na China, sobre o estudo, divulgado no ‘site’ de notícias de ciência EurekAlert, refere o caso dos furacões Harvey, Irma e Maria que atingiram os Estados Unidos sequencialmente em 2017, adiantando que a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA na sigla em inglês) não forneceu o apoio adequado às vítimas do furacão em Porto Rico quando o Maria atingiu, porque a maioria dos recursos de resgate e equipas especializadas em catástrofes tinham sido mobilizados para responder aos ciclones Harvey e Irma.
O texto é acompanhado de uma imagem de um satélite da agência norte-americana Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA na sigla em inglês), de 14 de setembro de 2020, que mostra cinco ciclones tropicais a girar na bacia do Atlântico em simultâneo: o furacão Sally no Golfo do México, o furacão Paulette a leste das Carolinas, os restos da tempestade tropical René no Atlântico central e as tempestades tropicais Teddy e Vicky no Atlântico leste.
Segundo a NOAA, naquele mês formaram-se um total de 10 tempestades às quais foram atribuídos nomes (por poderem causar grande impacto em bens ou pessoas), o número mais elevado já registado num mês.
Os cientistas aplicaram o modelo às observações existentes de ciclones tropicais.
“Tentámos desenvolver uma estrutura probabilística para compreender a tendência”, disse Dazhi Xi, climatologista da HKU (Universidade de Hong Kong), que coliderou o estudo e desenvolveu a metodologia, citado pela Europa Press.
Wen Zhou, climatologista da Universidade Fudan e autor correspondente do estudo, afirmou que o modelo estatístico será uma ferramenta poderosa para distinguir aglomerados de ciclones tropicais fisicamente ligados daqueles que se formam por puro acaso.
O estudo descobriu ainda que o padrão de aquecimento global semelhante ao La Niña, caracterizado por um aquecimento mais lento no Pacífico oriental em comparação com o Pacífico ocidental, causa as alterações observadas nos pontos críticos dos aglomerados de furacões.
“O padrão de aquecimento não só modula a frequência dos ciclones tropicais nas bacias do Atlântico Norte e do Pacífico Noroeste, como também afeta a intensidade das ondas à escala sinóptica, que, em conjunto, provocam a deslocação do ponto crítico dos aglomerados de ciclones tropicais do Pacífico Noroeste para a bacia do Atlântico Norte”, disse Zheng-Hang Fu, estudante de doutoramento na Universidade de Fudan e coautor do estudo.