Integração vs Controlo

Se no artigo anterior lancei um olhar sobre os contornos da imigração na Região, hoje, permito-me ir um pouco mais fundo, com a delicadeza que o tema impõe.

Há seres humanos a atravessar o mar, os céus, as promessas. Chegam com bagagens leves e sonhos pesados… não são números, não são estatísticas. São vidas e cada uma delas carrega uma narrativa própria, feita de coragem, de necessidade, de esperança.

Precisamos de pessoas, sim. A economia clama por braços e competências. Mas é imperativo que o olhar institucional e social não se reduza à funcionalidade de quem chega. Que se reconheça o seu valor não apenas como força de trabalho, mas como força humana. Porque por detrás de cada avental, cada uniforme, cada cargo desempenhado, está um coração que pulsa e que, como o nosso, deseja pertença, dignidade e futuro. A Madeira, embora dotada de autonomia administrativa, não está imune aos desafios nacionais e internacionais que envolvem os movimentos migratórios. A realidade insular confere-lhe, aliás, características muito particulares, desde logo pela limitação de recursos, pela escassez habitacional e por um mercado laboral que, apesar de dinâmico, nem sempre está preparado para acolher com eficácia uma nova força de trabalho sem previamente a qualificar e enquadrar.

Importa, por isso, definir estratégias que transcendam a mera receção de imigrantes e se concentrem numa verdadeira política de integração. Essa política deve ser assente em três pilares fundamentais: planeamento, qualificação e acompanhamento.

Uma proposta concreta seria o estabelecimento de protocolos entre institutos de emprego e formação com países onde ainda existe mão de obra disponível e vontade real de emigrar. Através dessas parcerias, seria possível desenhar percursos formativos conjuntos, permitindo que os candidatos fossem preparados nos seus países de origem, com base nas necessidades identificadas na Madeira. Por exemplo, no setor da hotelaria e restauração, onde escasseiam profissionais com o perfil adequado ao padrão regional de atendimento ao cliente.

Esses profissionais poderiam depois cumprir estágios em empresas da Região, num regime supervisionado e com avaliação contínua, o que permitiria ir ajustando e reforçando a sua formação em contexto real de trabalho. Este modelo permitiria ainda às entidades empregadoras ter um papel ativo na integração e na qualificação, reforçando a responsabilidade social e promovendo um verdadeiro acolhimento.

Simultaneamente, é crucial que o controlo migratório seja visto não como uma barreira, mas como um instrumento de proteção, tanto para a população residente como para os próprios migrantes. O equilíbrio entre acolher e regular é o que garante a coesão social.

Nenhuma destas medidas exige alterações legislativas profundas nem recursos financeiros fora do alcance da Região. Trata-se, acima de tudo, de visão estratégica, de capacidade de diálogo com diferentes entidades, nacionais e estrangeiras, e de assumir uma postura responsável perante um fenómeno que não é passageiro.

Urge a necessidade de soluções práticas, sustentáveis e humanas. E precisa, acima de tudo, de garantir que quem aqui chega possa encontrar mais do que um sustento: possa encontrar pertença, dignidade e um futuro com raízes.

Porque, por vezes, mais do que criticar, importa propor caminhos e é nesse espírito que estas palavras pretendem ser lidas; não se trata de mudar o rumo com grandes gestos, mas sim de afinar o compasso.

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