O que significa a palavra social? Depende. Principalmente do que a acompanha. Ou seja, se for antecedida pelos termos habitação, obra, apoio ou causa, a palavra social tem muito que se lhe diga, dependendo efetivamente de quem a utiliza ou interpreta.
É verdade que a utilização da palavra social, por si só, deveria transportar uma forte carga ética e humana, remetendo para questões de justiça social e para o apoio aos mais necessitados, sempre com o intuito de projetar a construção de futuros mais condizentes com a equidade social que preconizamos.
Mas não é isso com que nos deparamos. Assistimos, pelo contrário, a um abuso de um termo que, não raras vezes, abre espaço à criação de ferramentas que só perpetuam desigualdades em vez de promover a inclusão.
Por exemplo, o sistema de habitação social não assegura oportunidades iguais para todos. Pelo contrário, muitas vezes criam-se zonas segregadas, onde a habitação social funciona mais como uma solução de isolamento do que como uma oportunidade de inclusão efetiva. E somos confrontados com o paradoxo de que, em vez de apoiar, acaba por isolar.
A temática do assistencialismo exacerbado também tem ganho protagonismo. Muitas vezes, traduz-se em apoios que mantêm as pessoas numa espécie de dependência permanente, sem lhes oferecer ferramentas para que possam, com maior ou menor dificuldade, caminhar rumo à independência. Pelo contrário, eternizam ciclos de pobreza e exclusão social. Ajudar não deve ser sinónimo de facilitar sem ensinar, mas sim de promover a capacidade dos indivíduos para se sustentarem e desenvolverem.
Além disso, hoje, mais do que nunca, proliferam apoios que, sem questionar a sua boa intenção, acabam por ser pouco ou nada eficazes, por não responderem às reais necessidades das pessoas nem incentivarem sua participação ativa na sociedade.
Políticas que distribuem benefícios sem exigir nada em troca geram uma cultura de facilitismo que acaba por conduzir ao descrédito das entidades que as promovem, inclusive dos governos que, com medo de perder votos, mantêm sistemas assistencialistas que nada contribuem para a autonomia de quem deles beneficia.
A elaboração de políticas de emprego que geram trabalhos temporários ou mal pagos não vai ao encontro da inclusão social.
Promover programas educativos que se focam apenas na ajuda imediata, sem investimento no desenvolvimento de competências para a vida, não garante futuro.
Dar apoios financeiros a populações vulneráveis sem acompanhamento social ou psicológico cria muitas dependências.
Importa, por isso, repensar o que significa a denominação social quando nos deparamos com políticas públicas. Porque não basta rotular algo como social para garantir justiça e inclusão.
A verdadeira política social deve estar ancorada na promoção da justiça, igualdade e autonomia, combatendo não só os sintomas e as maleitas profundas, mas também as causas, proporcionando orientações para que todos possam ser incluídos num sistema que lhes assegure autonomia a todos os níveis.
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