Representantes de 184 países iniciaram hoje em Genebra negociações sob os auspícios da ONU para, em 10 dias, tentar redigir o primeiro tratado para resolver a crise global da poluição por plástico.
O diplomata equatoriano Luis Vayas Valdivieso, que preside às discussões do comité de negociação (INC5-2), pediu aos Estados, ao abrir os debates, que assumam a sua responsabilidade perante esta “crise global”.
“A poluição plástica danifica os ecossistemas, polui os nossos oceanos e rios, ameaça a biodiversidade, afeta a saúde humana e sobrecarrega injustamente os mais vulneráveis. A emergência é real, as evidências são claras e a responsabilidade é nossa”, declarou.
Em discussão há três anos, um texto “legalmente vinculativo” para os Estados “não chegará automaticamente”, alertou hoje, quando recebeu representantes de mais de 600 organizações não-governamentais (ONG).
Num contexto de aumento das tensões geopolíticas e comerciais, esta sessão adicional de dez dias de negociações intergovernamentais foi acrescentada após o fracasso de negociações semelhantes em Busan, na Coreia do Sul, no final de 2024. Um grupo de países produtores de petróleo bloqueou qualquer progresso.
“Tem havido muita diplomacia desde Busan”, disse à agência AFP Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), que está a organizar as discussões. “A maioria dos países com quem conversei disse que vinha a Genebra para chegar a um acordo”, acrescentou.
Um otimismo moderado pela ministra francesa da Transição Energética, Agnès Pannier Runacher, que considerou hoje que as discussões seriam “difíceis”.
Na vanguarda das reivindicações do grupo de países “ambiciosos”, que inclui muitos países europeus, está o desejo de ver incluída no tratado “uma meta global de redução” da produção e consumo de polímeros plásticos primários.
No entanto, os países produtores de petróleo e a indústria petroquímica rejeitam, pressionando por um tratado que se concentre exclusivamente na reciclagem e no tratamento de resíduos.
Este ponto, um dos mais espinhosos em Busan, é também controverso na Europa. A diretora da Agência Suíça do Ambiente, Katrin Schneeberger, que falou à imprensa como país anfitrião das negociações, disse que “não há necessidade de apelar a reduções de produção ao contrário do que dizem alguns artigos da imprensa”.
Sem confirmar ou desmentir, Inger Andersen, a seu lado, preferiu sublinhar que o tratado abrangeria “toda a vida útil dos plásticos. Do princípio ao fim, e não apenas metade” da sua vida, quando se tornam resíduos.
Na segunda-feira, cientistas e ONG aumentaram a pressão sobre os delegados. A poluição plástica é um risco para a saúde “grave, crescente e subestimado” que custa ao mundo pelo menos 1,5 biliões de dólares por ano, alertaram especialistas na revista médica The Lancet.
Para destacar a questão, uma instalação artística temporária e em constante evolução, chamada “O Fardo do Pensador”, foi instalada em frente ao local das negociações em Genebra: uma reprodução da famosa estátua do escultor Auguste Rodin presa num mar de resíduos plásticos.
O representante da indústria química dos Estados Unidos, Matthew Kastner, presente em Genebra, defendeu o plástico e os serviços que presta às sociedades modernas, considerando que é “vital para a saúde pública”, especialmente graças a todos os equipamentos médicos esterilizados, máscaras cirúrgicas, tubos, tubagens e embalagens, que melhoram a higiene e a segurança alimentar em particular.
Mais de 500 ONG francófonas de 40 países responderam hoje com uma carta a pedir um tratado que seja “vinculativo, equitativo e focado na redução da produção de plástico, de forma a limitar a poluição na fonte”.