Expansão de operações militares israelitas em Gaza seria “catastrófica”

A expansão das operações militares israelitas em Gaza poderia ter “consequências catastróficas”, alertou hoje no Conselho de Segurança das Nações Unidas o subsecretário-geral da organização Miroslav Jenca.

“O direito internacional é claro a este respeito: Gaza é e deve permanecer parte integrante de um futuro Estado palestiniano”, sublinhou Jenca, numa reunião de emergência do Conselho de Segurança sobre o conflito, um dia depois de os media israelitas terem noticiado a intenção do governo de Benjamin Netanyahu avançar para o controlo militar total do enclave, incluindo zonas onde deverão estar os reféns israelitas tomados pelo movimento islamita palestiniano Hamas.

Netanyahu manteve hoje uma reunião de cerca de três horas com o chefe das forças armadas, Eyal Zamir, após a imprensa israelita ter noticiado a oposição do líder militar aos planos do Governo para uma ocupação completa da Faixa de Gaza, onde permanecem cerca de 50 reféns israelitas, 20 dos quais vivos.

No Conselho de Segurança, Jenca reiterou ainda o apelo do secretário-geral António Guterres à “libertação imediata e incondicional de todos os reféns” mantidos na Faixa de Gaza.

Mas também lamentou que Israel “continue a restringir severamente a entrada de ajuda humanitária em Gaza”, que continua a ser “grosseiramente insuficiente”.

“A fome está em todo o lado em Gaza, visível nos rostos das crianças e no desespero dos pais que arriscam a vida para ter acesso às necessidades mais básicas”, acrescentou.

A reunião do Conselho de Segurança da ONU foi convocada por iniciativa de Israel, que procurou chamar atenção para a situação humanitária dos reféns na posse do Hamas desde outubro de 2023.

O movimento islamita, que rejeita os apelos dos países árabes a que deponha as armas, divulgou recentemente um vídeo de propaganda que mostra um dos reféns, o jovem Evyatar David, emagrecido e gravemente debilitado, a cavar um buraco que afirma ser a sua própria sepultura.

O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, afirmou pouco antes da reunião ter vindo à sede da ONU em Nova Iorque denunciar os “crimes desprezíveis” do Hamas.

“Vim aqui para colocar a questão dos reféns em destaque no palco mundial” e pedir a sua “libertação imediata e incondicional”, afirmou o ministro.

Além das dúvidas dos militares, o tema também parece provocar divisões no Governo e o ministro dos Negócios Estrangeiros Gideon Saar expressou hoje o seu apoio a Zamir nas redes sociais.

“O chefe do Estado-Maior deve expressar a sua opinião profissional de forma clara e inequívoca à liderança política”, escreveu o chefe da diplomacia israelita.

Em Israel, o ministro da Defesa avisou hoje que vai assegurar que o Exército cumpre as decisões políticas sobre a Faixa de Gaza, após a divulgação da oposição do chefe do Estado-Maior à ocupação total do enclave palestiniano.

“Assim que a liderança política tomar as decisões necessárias, a liderança militar, como fez em todas as frentes de guerra até à data, implementará profissionalmente a política determinada”, declarou Israel Katz, durante uma visita a uma base militar na “zona tampão” da Faixa de Gaza.

O conflito na Faixa de Gaza foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 61 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.

Além disso, o enclave tem estado sujeito a um bloqueio por Israel, acumulando-se relatos de fome entre a população, que foi agravada pelo afastamento das agências da ONU e organizações não-governamentais de ajuda humanitária.

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