Diáspora, Memória e Futuro

Decorreu na semana passada mais uma edição do Fórum Madeira Global, aquele que é hoje, sem margem para dúvida, o maior encontro da diáspora madeirense no mundo. Um espaço onde se cruzam histórias, afetos e destinos, onde se renovam laços de amizade e se constroem pontes para o futuro. Um lugar onde se sente e se reafirma a madeirensidade – essa identidade feita de raízes profundas e de afetos à prova do tempo e da distância.

Ao longo dos trabalhos, foram abordados temas particularmente caros à nossa Região – e, não o escondo, vários deles com alguma ligação a este vosso amigo. Não quero com isto cair no discurso dos “pré-reformados” que gostam de listar as obras feitas, nem reclamar créditos ou nostalgias. Mas é verdade que há pontas soltas de um passado mais ou menos recente que podem e devem ser retomadas. E tenho confiança de que o serão, da melhor forma possível, por quem de direito.

Um gabinete da Madeira em Bruxelas

Durante o painel da tarde, o embaixador António Martins da Cruz, personalidade de enorme prestígio em matérias de diplomacia, comunidades e investimento, defendeu a necessidade urgente de a Madeira repensar a sua presença em Bruxelas, sobretudo no contexto das negociações de fundos europeus. Sublinhou que, no próximo quadro comunitário, as regiões estarão afastadas da mesa de decisão, e que o alargamento da União Europeia trará novos países da coesão, capazes de captar verbas a que hoje ainda acedemos. Ora, esse gabinete existe desde 2017, fruto de uma iniciativa que ajudei a conceber. Funciona num modelo de representação “chave-na-mão”, com profissionais conhecedores do meio. Mas talvez seja altura de evoluir para uma estrutura com dedicação exclusiva, com foco absoluto na Madeira e aquele espírito autonomista retinto que tanto tem contribuído para o nosso progresso.

Estou certo de que essa avaliação será feita com ponderação. E, para que não restem dúvidas: não tenho qualquer interesse no cargo, “por questões pessoais”, como agora se diz. Apenas quero ver a Madeira bem representada onde conta.

Voto da diáspora madeirense

Outro tema importante foi a justa reivindicação das comunidades madeirenses no estrangeiro de poderem votar nas eleições regionais. Um círculo da emigração para a Assembleia Legislativa da Madeira é há muito pedido, à semelhança do que já sucede na Assembleia da República.

Apesar da recente revisão da Lei Eleitoral Regional, essa pretensão ficou de fora. Ora, o Governo Regional tem em sua posse um parecer técnico e jurídico que aponta um caminho para concretizar essa ambição sem necessidade de alterar a Constituição. O parecer sustenta-se na definição do conceito de “cidadão madeirense” e no correspondente universo eleitoral da diáspora.

Mais pertinente se torna esta via se tivermos em conta que o autor desse parecer é Tiago Macieirinha, atual Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, responsável pela área jurídica do Governo da República, sob a coordenação de António Leitão Amaro. Estão assim reunidas as condições políticas e técnicas ideais para que Governo Regional e Governo da República, em articulação com as respetivas assembleias, avancem com uma proposta que consagre o direito de voto dos nossos emigrantes, respeitando a Constituição.

Investimento da diáspora: da intenção à ação

O terceiro grande tema prende-se com o investimento da diáspora, um desafio tão recorrente quanto inconclusivo. São muitos os fóruns e as ideias, mas o que falta mesmo é concretização. Enquanto tive responsabilidades nesta área, iniciei o desenho de uma plataforma digital para ligar investidores da diáspora a empreendedores locais.

A ideia era permitir que quem tem capital e vontade de apoiar projetos da sua terra encontrasse propostas viáveis, com apoio técnico. Numa versão mais ambiciosa, previa-se até a criação de um fundo de investimento da diáspora. Questões operacionais impediram o avanço, mas o modelo está existe.

Partilhei esta proposta com o novo Secretário de Estado das Comunidades, Emídio Sousa, que demonstrou simpatia pela ideia, tendo já tentado algo semelhante enquanto autarca em Santa Maria da Feira. O desafio está lançado: que esta oportunidade não caia no esquecimento, e que se materialize finalmente em algo útil para a Região.

O Fórum Madeira Global não é apenas um evento. É um espelho onde vemos o passado, o presente e o futuro da Madeira. E é também um apelo constante para que não se percam as oportunidades de fazer melhor, com memória, visão e sentido de missão. Congratulo a Direção das Comunidades e Cooperação Externa por mais este sucesso.

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