Escolhas 2.0

As temperaturas continuam a subir, o calor aperta mais a cada dia que passa, os dias continuam grandes, entrámos em definitivo na época das grandes festas, a época convida a passeios.

Na passada sexta-feira passei pela Ponta do Sol, uma noite calma na mais bonita vila da região e muito bem preservada, não só pela sua beleza natural, mas também pelo casario que se estende de forma suave pelas ruelas abaixo a desaguarem na pequena praia de calhau exemplarmente preparada para a época balnear. As festas deste fim de semana eram longe, no Porto Moniz os Xutos e Pontapés faziam vibrar a multidão com o puro rock português, intemporal e claramente intergeracional. Em Machico, os sons mais calmos de Fernando Daniel puseram outra multidão a cantar as suas conhecidas baladas.

Mas voltemos à Ponta do Sol, sinto um grande orgulho na sua presidente e no trabalho que tem feito pela sua terra, pelas suas gentes. Terra de cultura, da banana e da cana, terra de pescadores. Terra que acolhe de forma exemplar nómadas que escolhem aquele canto para passarem uma temporada. A sua dinâmica é tão interessante, que nos dá vontade de ir para lá, sentarmo-nos numa das esplanadas da Rua Dr. João Augusto Teixeira e beber uma cerveja, um vinho branco, ou mesmo um gin para refrescar a garganta deste ar quente que nos atinge.

Olho para esse concelho e vejo as ruas cuidadas, limpas, os espaços públicos dignos para a sua população usufruir, não só no coração do concelho, como por todas os sítios, paróquias e freguesias, nota-se o cuidado ao nível urbanístico, não deixando que o betão dê cabo da sua beleza e harmonia. É inegável, a Ponta do Sol ganhou muito nos últimos 8 anos, não só para quem a visita, como na qualidade de vida dos seus munícipes. Continua assim Célia, a população saberá reconhecer o teu amor à terra.

No sábado rumei a São Vicente, terra da minha avó paterna e da minha mulher, onde, desde a minha juventude, passo temporadas. É impossível ficarmos indiferentes à beleza do vale quando saímos do túnel da encumeada, no Rosário. O verde das montanhas circundantes vai tão alto que quase beija o azul do céu, mais abaixo, surge o azul um pouco mais escuro do mar, com a famosa capelinha a fazer a despedida da terra para esse grande oceano. Olhemos apenas para essa paisagem natural, pois onde tem havido a intervenção humana, o caos, o mau gosto e até a degradação mostram o retrocesso que São Vicente tem tido.

Casas desenquadradas urbanisticamente, em zonas que deveriam ser exclusivamente verdes ou agrícolas, um supermercado gigante no meio da vila que já foi um ex-libris da região, uma frente mar renovada com betão que tapa esse fantástico mar, onde nem o mais simples asfalto escapou à laranjite que atinge tão bela terra. Parolos!

Meu deus, o que fizeram de São Vicente? A sua bela vila degradou-se, está vazia, já nem local de passagem é. Outrora, todos os fins de semana, famílias e amigos encontravam-se, jogavam cartas, punham a bilhardice em dia, tomavam copos, petiscavam. Não era preciso combinar nada, bastava aparecer e certamente teríamos um grupo com quem conversar. São Vicente morreu. Até a sua festa de verão, durante muitos anos a maior e mais desejada pela juventude, parece estar a perder a sua pujança.

Hoje, domingo, reflito. Quais seriam as minhas escolhas se votasse num desses concelhos? Não tenho dúvidas, continuar o bom trabalho da Ponta do Sol, mudar claramente de rumo em São Vicente. Façam as vossas escolhas com base no trabalho apresentado. Não se deixem ir em conversas, nem em prendas que têm 12 de outubro como prazo de validade.

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