Em 2024, um artigo publicado na revista “Regional Studies and Local Development” chamava a atenção para a universidade como fator de desenvolvimento local, mudança estrutural e reequilíbrio territorial nas regiões mais afastadas dos grandes centros de concentração do capital e das populações. Segundo o autor, existe uma relação, a que chama de “atividade ponte”, entre a universidade e o território que beneficia, por um lado, as ações e atividades académicas e, por outro, potencia a economia, a formação de capital humano, os projetos de inovação, a vivacidade cultural e a qualidade institucional dos órgãos administrativos e das empresas. A universidade desenvolve também um importante papel na atração e na manutenção dos jovens talentos, estudantes e investigadores, ativando processos de circulação do capital humano que constituem um fator vital na economia moderna.
A conceção de uma universidade apenas direcionada para a formação é uma ideia do passado. De facto, a academia é um pólo de inovação, de diálogo com os setores produtivos e, além disso, constitui-se como um importante espaço de interação com a comunidade, com iniciativas que favorecem a valorização e o impacto do conhecimento produzido em benefício do progresso social, cultural e económico, muitas vezes de forma informal e com públicos variados. Didática, investigação e difusão convergem assim num único projeto integrado a favor do desenvolvimento do território.
Na Região Autónoma da Madeira, a universidade tem tido a partir da sua formação um papel fulcral neste projeto. Se, num primeiro momento, se concentrou no ensino e pesquisa, posteriormente a Universidade da Madeira assumiu a chamada terceira missão da Universidade. Esta tem a ver com o desenvolvimento de um conjunto de atividades através das quais interage diretamente com a sociedade e modifica o território. Isto acontece através de ações de valorização económica do conhecimento e de atividades e eventos de ordem cultural, social e de divulgação da ciência. Esta constante transferência da pesquisa para o mundo produtivo e para a esfera da cidadania ativa é extremamente importante para as políticas urbanas e regionais.
Muitas vezes, o financiamento das universidades a nível nacional não tem tido a sensibilidade de responder à diversidade dos territórios, implementando políticas que não contemplam o contexto. Isto é, muito dificilmente uma universidade localizada em regiões com menor tecido industrial e mais distante dos grandes centros económicos terá a mesma capacidade de responder aos diversos desafios do que as universidades maiores. No entanto, exige-se-lhes exatamente a mesma performance e os mesmos resultados.
Além disso, as diversas formas de financiamento a que temos assistido nunca dão peso suficiente ao facto da existência da “atividade ponte”. Ou seja, não têm em consideração a importância de uma dada universidade para o território que serve. No caso da Universidade da Madeira, a sua existência tem-se demonstrado essencial quer para a formação das novas gerações, com os jovens, independentemente das suas possibilidades económicas, a terem acesso à frequência do ensino superior, quer para o progresso social, cultural e tecnológico da Região.
É, por isso, essencial que existam entre as diversas forças políticas um consenso e uma convergência de vontades para a defesa do ensino superior na Madeira, quer a nível de um financiamento mais justo e diferenciado, quer a nível de um sempre maior investimento regional, não só a nível do governo, mas do tecido industrial e comercial. Se pensarmos numa universidade como a do Minho, sabemos que muito do seu crescimento se deve a este último. De facto, se existe no território um ensino superior eficiente, temos crescimento, com novas ideias e oportunidades. O ensino superior na Madeira pertence já, por direito, ao que se pode chamar grupo dos inovadores regionais e para um crescimento maior a nível local há que fazer confluir todos na missão de o manter e desenvolver.