Número de crianças palestinianas deslocadas na Cisjordânia atinge recorde

De acordo com a organização, das 1200 pessoas deslocadas durante o período em causa, metade são crianças, o que constitui o número mais alto num primeiro semestre desde o início dos registos, em 2009.

O número de crianças palestinianas deslocadas pelas demolições de casas que Israel tem feito na Cisjordânia atingiu um novo recorde no primeiro semestre deste ano, alertou hoje a organização não-governamental (ONG) Save the Children.

De acordo com a organização, das 1200 pessoas deslocadas durante o período em causa, metade são crianças, o que constitui o número mais alto num primeiro semestre desde o início dos registos, em 2009.

O número de deslocados na Cisjordânia tem registado um “aumento acentuado” desde 07 de outubro de 2023, data dos ataques lançados pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e outras fações palestinianas contra Israel, que deram início à guerra atualmente em curso.

Israel respondeu aos ataques com uma ofensiva sangrenta contra a Faixa de Gaza e um aumento das operações militares na Cisjordânia, que se expandiram desde então.

Segundo a Save the Children, tem havido uma “política sistemática” das autoridades israelitas para anexar parte da Cisjordânia através de demolições, confiscos de terras e alterações legais para obrigar os palestinianos a abandonar as suas casas, permitindo a expansão dos colonatos.

As demolições de casas são, de acordo com a organização, uma das principais causas da deslocação de mais de 38.000 palestinianos desde outubro de 2023.

No entanto, especificou a mesma fonte, cerca de 75% dos deslocados, o equivalente a mais de 29.000 pessoas — incluindo milhares de crianças — foram forçadas a fugir das suas casas devido a incursões militares israelitas em grande escala no norte da Cisjordânia, um dos principais focos das suas operações desde outubro de 2023.

Além disso, “as forças israelitas mataram pelo menos 420 pessoas e feriram outras 950 em ataques na Cisjordânia desde o início deste ano, período durante o qual mais de 900 propriedades foram destruídas”, aponta a organização de defesa das crianças.

Por isso, o diretor da ONG para o Médio Oriente, Norte de África e Europa de Leste, Ahmad Alhendawi, realçou que “as políticas e práticas das autoridades israelitas estão a sufocar o quotidiano da população palestiniana na Cisjordânia”.

“Os lares das crianças estão a ser demolidos, os seus futuros destruídos, as suas vidas dilaceradas”, acrescentou.

“Nenhuma criança deve crescer sob a constante ameaça de violência, deslocação forçada ou detenção militar. Esta é uma crise de direitos das crianças, ofuscada por uma violência ainda maior em Gaza”, sublinhou, considerando que “a escala monstruosa e a gravidade da violência em Gaza não tornam a violência menor aceitável, nem eliminam as obrigações legais”.

“Violações são violações. Crianças são crianças”, sublinhou.

O diretor da organização lamentou que “durante décadas, as forças israelitas e os colonos tenham aterrorizado as famílias palestinianas com quase total impunidade” e garantiu que, desde o início da guerra em Gaza, a violência aumentou na Cisjordânia.

“Não há guerra na Cisjordânia, mas há um número recorde de crianças deslocadas, agredidas, presas e assassinadas”, apontou Alhendawi, insistindo que “a comunidade internacional não pode alegar ignorância”.

O silêncio da comunidade internacional “está a permitir estes ataques contra crianças. Isso tem de acabar”, concluiu.

Segundo dados avançados pela ONU na semana passada, os deslocamentos da população na Cisjordânia atingiram níveis nunca vistos desde o início da ocupação israelita, há quase 60 anos.

Desde 21 de janeiro, o exército israelita realiza uma ofensiva em grande escala denominada “Muro de Ferro” em várias áreas da Cisjordânia que “afeta vários campos de refugiados na região e já provocou o maior deslocamento de população palestiniana na Cisjordânia desde 1967”, afirmou o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos Thameen Al Kheetan.

“Cerca de 30 mil pessoas foram deslocadas desde o início da operação ‘Muro de Ferro’ e continuam deslocadas hoje em dia”, explicou.

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