O número de recém-licenciados em Engenharia Eletrotécnica não é suficiente para as necessidades do mercado, afirmaram à agência Lusa empresários e a responsável pelo curso no Politécnico de Leiria.
“Não é um problema da região de Leiria. É um problema nacional e até europeu. Diplomamos todos os anos cerca de 50 alunos, o que tem sido manifestamente insuficiente. Temos sempre uma ‘pool’ de pedidos muito grande e agora verifica-se uma mudança de hábitos das empresas”, revelou a coordenadora da licenciatura em Engenharia Eletrotécnica da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico de Leiria, Carla Lopes.
As empresas já não se limitam a contactar a escola, mas “aparecem nas apresentações de projeto para fazer uma captação direta aos estudantes”, explicou.
A falta de alunos nesta área está relacionada com as provas de ingresso de Matemática e a Físico-Química (obrigatórias), afirmou Carla Lopes, especificando que os resultados menos bons nesta última disciplina “limita a entrada na Engenharia Eletrotécnica”.
No entanto, a coordenadora informou que, tendo em conta a falta de mão-de-obra nesta área, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação alterou as provas de ingresso e já nesta primeira fase de acesso ao ensino superior os estudantes só têm a Matemática como disciplina obrigatória.
A procura por diplomados nesta área tem aumentado nos últimos anos, uma vez que “as necessidades da indústria tecnológica estão a mudar muito rápido”, mais assentes na eletrónica aplicada à indústria e na inteligência artificial.
“A indústria está sedenta destes conhecimentos e temos preparado os alunos nesse sentido. Se até há uns anos a automação e a robótica eram o que eles [empresários] mais pediam, hoje solicitam uma eletrónica aplicada à automação, uma robótica muito eletronizada”, constatou.
A inteligência artificial atingiu transversalmente as áreas todas, o que se está a “refletir também nas necessidades das empresas”. Por exemplo, a eletrónica “não basta estar coberta pela área da mecânica”, até porque, “agora, tudo o que é sensor na indústria tem de estar interligado e centralizado com a ‘cloud’”.
Carla Lopes precisou que a Engenharia Eletrotécnica abrange áreas como a energia, telecomunicações, eletrónica ou programação. “Tanto trabalhamos para a indústria automóvel como para os operadores móveis ou energéticos ou na codificação de áudio ou de vídeo. Temos também agora uma forte componente no departamento de robótica médica”, disse.
O diretor de produção da Fase Criativa, uma empresa de instalações elétricas, Paulo Cunha, confirmou a dificuldade em recrutar quadros qualificados. “Contactámos o Politécnico de Leiria para contratarmos alguém recém-formado para integrar a nossa empresa como direção de obra, mas não foi possível. Há uma falta de alunos enorme nesta área”, revelou.
Segundo este responsável, há muitas empresas a tentar recrutar jovens licenciados e não há mão-de-obra suficiente para colmatar as necessidades.
Também a EST, empresa prestadora de serviços na área da eletricidade, sofre da falta de mão-de-obra mais operacional no terreno, como eletricistas e serralheiros. “Os cursos TeSP [técnico superior profissional] têm contribuído para o mercado, mas não em número suficiente”, indicou a diretora de recursos humanos.
Filipa Gomes entende que não deixa de ser “um desperdício de talento ficarem só como eletricistas”.
“OS TeSP não são uma solução, mas têm sido uma ajuda. Os alunos que não querem prosseguir estudos acabam por ficar connosco”, adiantou.
A EST tem conseguido recrutar engenheiros eletrotécnicos, mas a diretora de recursos humanos admitiu a escassez de profissionais qualificados.
“Das entrevistas que fazemos, a expectativa dos recém-licenciados é irem para o estrangeiro”, acrescentou.