A Ordem dos Engenheiros – Região Madeira deu início ao ciclo de conferências ‘Conversas com a Sociedade’ com um painel dedicado ao tema ‘A Anatomia das Redes Elétricas: Apagões e Outros Desafios’, reunindo especialistas do setor energético para refletir sobre vulnerabilidades, soluções e lições retiradas do recente apagão em Portugal Continental.
O primeiro painel foi dedicado à resiliência dos sistemas elétricos: redes interligadas versus redes isoladas, José Medeiros Pinto, consultor em energia e ex-dirigente da APREN, classificou o apagão de abril como “um sinal de alarme” que revelou falhas estruturais no planeamento e coordenação da rede nacional. “Não estamos apenas perante um problema técnico, mas sim político e organizacional. Falta articulação entre os diversos níveis de decisão”, advertiu. Defendeu também o reforço das interligações ibéricas e a diversificação das fontes de produção.
Aires Henriques, da Direção de Estudo e Planeamento da Empresa de Eletricidade da Madeira (EEM), destacou a trajetória da RAM em matéria de segurança energética. Referiu que, em três décadas, a Madeira registou poucos incidentes graves, graças a uma gestão integrada e à aposta em redundância e armazenamento. “Os nossos apagões não são falhas sistémicas, mas sim episódios localizados muitas vezes associados a fenómenos extremos”, explicou.
Nuno Freitas, Diretor de Produção da EEM no Porto Santo, apresentou os avanços da ilha no âmbito do plano “Porto Santo Sustentável – Smart Fossil Free Island”. Recordou que o arquipélago foi pioneiro na instalação de baterias e na produção renovável autónoma. “Conseguimos desativar a central térmica por mais de 200 minutos e operar com 100% de renováveis – isso era impensável há dez anos”, disse, revelando que a EEM está a investir mais 10 milhões de euros para aumentar a capacidade de armazenamento e garantir que 60% da energia consumida na ilha será limpa.
Por fim, Estevão Abreu, Diretor Regional de Energia, frisou a importância de um quadro jurídico adaptado à especificidade insular. “A Madeira funciona em rede isolada e isso exige planeamento e rigor extremo”, notou. Destacou o papel da EEM na operação segura da rede e anunciou o lançamento próximo de um concurso para a instalação de 60 MW adicionais de energia renovável.
A sessão reforçou a ideia de que “a Madeira está na linha da frente da resiliência energética, graças ao investimento contínuo, à inovação tecnológica e ao papel estratégico da EEM. Para o continente, os exemplos insulares oferecem lições valiosas num contexto de transição energética e vulnerabilidade crescente das infraestruturas críticas”.