Em ano de eleições autárquicas, é inevitável falar do valor da proximidade. Falo da proximidade genuína, daquela que se faz no dia a dia, a que conhece os caminhos, os sítios, as pessoas e as suas reais necessidades, e não aquela proximidade artificial de alguns que só se lembram das pessoas quando se aproximam os atos eleitorais.
Este é o momento em que a democracia representativa aproxima-se mais dos cidadãos e o compromisso vinculativo com as pessoas ganha o espaço. A progressiva perda de confiança na classe política tem aumentado nas últimas décadas em todos os países ocidentais, refletida no aumento constante da abstenção.
As razões deste distanciamento são vastas e complexas. As ideologias robustas de contornos precisos que caracterizaram a organização dos partidos políticos e governos durante décadas foi esmorecendo a par do surgimento de novas aspirações e posturas cívicas menos comprometidas com soluções totais e definitivas, mais apostadas nas causas pontuais; a exploração da fragilidade e dos problemas de determinadas franjas da população, assente em estratégias políticas demagógicas e vazias que nada pretendem além de alimentar o ego e a visibilidade dos seus criadores, passou a ser modo de ação.
As identidades políticas dos cidadãos tornaram-se mais individualizadas e flutuantes, e a relação estreita entre o partido político e a identidade social mais diluída. Esta nova forma de interpretação e de relação entre as pessoas e a política é também fruto de uma nova conjuntura internacional que produz efeitos no mundo da vida das pessoas, dos seus interesses e da forma como se perspetivam a si mesmas e ao seu futuro. O triunfo da economia de mercado, as alterações nas relações laborais, a globalização de bens, culturas e pessoas, as sucessivas crises financeiras, económicas e políticas que abalaram o Mundo instalam nos cidadãos, em primeira instância, a sensação de que a autoridade, o poder nas suas diferentes dimensões é hoje algo distante, difícil de perceber e controlar.
Em consequência do elevado grau de agitação política e social, bem como da velocidade estonteante com que a informação circula, as pessoas sentem que não é possível mudar a sociedade para melhor, e assim a militância política perde sentido ou canaliza-se para novas formas de participação em torno de outros temas.
Ainda que muitas vezes perdidas na confusão intensa das redes sociais, baralhadas pela informação superficial e distorcida que circula na Internet, nos programas televisivos e nos de comentário político, as pessoas têm hoje aspirações mais exigentes; são cada vez mais atentas e têm, acima de tudo, um nível de formação muito superior ao dominante nas últimas décadas do século passado; os cidadãos querem políticos dedicados, com uma proximidade verdadeira, que sejam capazes de assumir um compromisso e de cumprir com a sua palavra.
As eleições autárquicas podem e devem abrir o caminho a uma democracia de melhor expressão, mais atenta e mais participativa. Uma democracia de proximidade, prolongada, para além do voto, numa dinâmica local, comunitária, inteligente e mobilizadora.
Ciente deste realidade, consciente do grau de exigência dos cidadãos, participo nestas eleições autárquicas, acompanhada por uma equipa com a vontade de construir um município diferente, mais próximo e de contribuir para a construção de um futuro melhor para Santana.