O antigo presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, atual líder da Aliança Global para as Vacinas (Gavi), disse hoje que o declínio da ajuda ao desenvolvimento por parte dos EUA tem “consequências gravíssimas”.
“Infelizmente, os EUA, que nos tinham prometido 1.800 milhões [de dólares] anunciaram que não davam mais nada para a Gavi enquanto não fossem resolvidos alegados problemas de segurança vacinal, numa situação absolutamente falsa, alegadamente falsa, recorrendo a posições anticientíficas, negando o valor das vacinas”, disse numa conferência no Palácio do Governo, na Praia, Cabo Verde.
“Isto não deixa de ter consequências gravíssimas, porque não é apenas nas vacinas – o que é grave – o declínio da ajuda ao desenvolvimento a que estamos a assistir por parte dos EUA”, afirmou o antigo primeiro-ministro português, numa intervenção a título pessoal sobre a atual situação geopolítica global.
No caso, Durão Barroso detalhou que, “felizmente para a Gavi os países europeus responderam positivamente” numa recente cimeira sobre imunização organizada, em junho, em Bruxelas.
“A questão que temos, para atingir os objetivos de desenvolvimento, é: como vamos conseguir mobilizar não apenas os recursos financeiros, que são muito importantes, mas não são tudo. São precisos recursos psicológicos, intelectuais, técnicos, tecnológicos e aí os EUA fazem muita falta”, acrescentou.
“Porque os EUA são, ao longo dos anos, graças, sobretudo, à sua ciência e tecnologia, um dos principais parceiros de desenvolvimento”, acrescentou.
Segundo Durão Barroso, é preciso “juntar todos aqueles que têm capacidade para ajudar ao desenvolvimento e é dramático quando um parceiro tão importante não está presente e, às vezes, ainda critica os esforços daqueles que tentam dar o seu melhor”.
O antigo líder europeu enquadrou o exemplo da sua experiência na GAVI para ilustrar o argumento de que “não faz sentido” polarizar o mundo num “norte global” e “sul global”.
“Temos é de trabalhar para responder às necessidades da humanidade”, considerando que “mais importante que os estados, partidos ou ideologias é cada pessoa, cada ser humano e a [sua] dignidade”, concluiu.
A Gavi apresenta-se como o apoio para a vacinação de mais de metade das crianças do mundo contra doenças infecciosas mortais e debilitantes.
A organização apoia a vacinação contra 20 doenças, incluindo covid-19, Ébola, malária, raiva, poliomielite, cólera, febre tifoide e febre amarela.