A porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos disse hoje que a ONU está “muito preocupada” com a morte de pelo menos 10 pessoas nos protestos de segunda-feira no Quénia, marcados pela violência e pilhagens.
“Estamos muito perturbados com os homicídios ontem [segunda-feira] de pelo menos 10 pessoas, bem como com a pilhagem e destruição de bens no Quénia”, disse uma porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, citada pela agência francesa de notícias, France-Presse (AFP).
Nas declarações à imprensa em Genebra, a porta-voz de Volker Türk lamentou que as forças de segurança tenham usado “munições letais, balas de borracha, gás lacrimogéneo e canhões de água” contra os manifestantes e acrescentou que “de acordo com o direito internacional dos direitos humanos, as forças da ordem só devem recorrer à força letal, incluindo armas de fogo, quando estritamente necessário para proteger vidas contra uma ameaça iminente”.
O Alto Comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk, “renova o seu apelo à calma e à contenção e ao pleno respeito pelas liberdades de expressão, associação e reunião pacífica”, indicou a sua porta-voz, acrescentando que “é essencial que as queixas legítimas que estão na origem destas manifestações sejam tidas em conta”.
O Alto Comissariado regista que a polícia anunciou a abertura de uma investigação sobre os incidentes anteriores e “reitera o seu apelo para que todos os homicídios relatados e outras alegadas violações e abusos do direito internacional em matéria de direitos humanos, incluindo no que diz respeito ao uso da força, sejam objeto de investigações rápidas, exaustivas, independentes e transparentes”.
O Dia Saba Saba (‘Sete, sete’ em suaíli, para 07 de julho) comemora todos os anos a revolta de 07 de julho de 1990, quando os quenianos se manifestaram pela instauração do multipartidarismo durante o regime autocrático de Daniel arap Moi, que durou de 1978 a 2002.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos (KNCHR, na sigla em inglês) do Quénia disse ter “documentado 10 mortos e 29 feridos em 17 condados” do país, sem dar mais detalhes, enquanto o Serviço Nacional de Polícia (NPS) anunciou ter contabilizado 11 mortos e 63 feridos, incluindo 52 polícias e 11 civis.
As últimas manifestações em Nairobi têm ficado marcadas pela violência policial, mortes e pilhagens.
Este ano, as celebrações foram concertadas com manifestações previstas em todo o país contra a estagnação económica, a corrupção e a brutalidade policial.
O atual chefe de Estado, William Ruto, eleito em 2022 e que prometeu defender a população desfavorecida, tem sido criticado pela oposição e organizações de direitos humanos.
As manifestações ocorridas no passado dia 25 de junho foram reprimidas pelas autoridades tendo os confrontos causado 19 mortos e 500 detidos.
Os protestos do dia 25 de junho destinavam-se a homenagear as dezenas de vítimas do movimento de cidadãos organizado em 2024 contra um projeto de aumento de impostos.