O Presidente brasileiro, Lula da Silva, avisou hoje que os BRICS são países soberanos, respondendo a ameaças de Trump, e que a utilização de moedas locais para realizarem comércio entre si é “uma coisa que não tem volta”.
“Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão”, disse o chefe de Estado brasileiro, na conferência de imprensa de encerramento da Cimeira de chefes de Estado e de Governo que decorreu na cidade brasileira do Rio de Janeiro e que foi presidente pelo Brasil.
Lula da Silva garantiu ainda que os membros dos BRICS, o grupo de Estados com economias emergentes, farão essa transição e que vão estudar o assunto com “responsabilidade” e “com muito cuidado”.
Mas avisou: “é uma coisa que não tem volta”, é o que “vai acontecendo aos poucos até que seja consolidado”, disse.
Lula da Silva garantiu ainda que os BRICS não nasceram “para afrontar ninguém”, sendo apenas “um outro modelo, um outro modo de fazer política, uma coisa mais solidária”.
Quanto às novas ameaças do Presidente norte-americano, Donald Trump, de impor uma tarifa aduaneira adicional de 10% aos países que “alinharem” com o bloco das economias emergentes, Lula da Silva frisou não achar “uma coisa muito responsável e séria um presidente de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da internet”.
“Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou, nós não queremos imperador, nós somos países soberanos”, disse, em resposta aos jornalistas.
No domingo, numa declaração conjunta intitulada “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, os chefes de Estado e de Governo do grupo dos BRICS condenaram as “sanções económicas” e a “imposição de medidas coercivas unilaterais”, numa alusão às tarifas impostas pelo Presidente dos Estados Unidos.
Na declaração, os líderes expressaram “sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)”.
Sem mencionar de forma explícita os Estados Unidos, o bloco reiterou que as sanções económicas unilaterais têm implicações negativas de longo alcance para os direitos humanos, incluindo os direitos ao desenvolvimento, à saúde e à segurança alimentar da população em geral dos Estados atingidos.
Na sequência desta declaração, Donald Trump ameaçou impor uma tarifa adicional de 10% a qualquer país que opte por alinhar com as políticas do bloco dos BRICS, que descreveu como “anti-Estados Unidos”.
“Qualquer país que se alinhe com as políticas anti-[norte-]americanas dos BRICS terá de pagar uma tarifa ADICIONAL de 10%”, escreveu Trump, no domingo à noite, numa publicação na sua rede social, a Truth Social, recorrendo à escrita em letras maiúsculas, como faz frequentemente para enfatizar a mensagem.
“Não haverá exceções a esta política”, acrescentou Trump, que já tinha ameaçado impor uma tarifa de 100% aos parceiros do fórum caso estes desafiassem a hegemonia do dólar.
A cimeira dos BRICS, que terminou hoje no Rio de Janeiro, centrou-se em quatro grandes temas: a reforma das organizações que regem a ordem internacional, a promoção do multilateralismo, a luta contra a fome e a pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável.
O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cujo país assume atualmente a liderança rotativa do bloco, teve de lidar com a ausência do homólogo chinês, Xi Jinping, que faltou à cimeira dos BRICS pela primeira vez, e do líder russo, Vladimir Putin, alvo de um mandado de detenção do Tribunal Penal Internacional (TPI) por alegados crimes de guerra na Ucrânia.
O grupo dos BRICS foi fundado em 2009 por Brasil, Rússia, Índia e China, juntando-se a África do Sul, em 2011. Atualmente integra ainda: Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irão, Indonésia e a Arábia Saudita.
A estes juntam-se, como membros associados, outros 10 Estados: Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e o Vietname.
O bloco representa mais de 40% da população global e mais de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.