Talvez as alterações climáticas ajudem a explicar a razão da aparente apatia de alguma oposição regional.
O tempo subitamente quente pode ajudar a explicar a passividade com que partidos da linha da frente encaram o processo eleitoral marcado para 12 de outubro (e quase todos os outros processos eleitorais).
Ou também pode ser o cansaço de tanta eleição repetida.
Talvez seja mesmo um pouco de cada uma das três motivações. Ou nenhuma delas.
Seja qual for a razão, nota-se um estranho apagamento da parte de partidos que deveriam encarar as eleições para as Câmaras e Juntas de Freguesia como um indispensável momento de afirmação, determinante para sonhar com outros voos.
Mas não. Não é isso que acontece. Parece que é mesmo o contrário, que há uma espécie de pré-desistência antes da derrocada.
À partida, esse fenómeno, sobretudo do PS, parece estranho. Mas é só à partida. Na verdade, o PS quase sempre foi assim. Com exceção da dinâmica de vitória que levou Paulo Cafôfo à Câmara do Funchal em 2013, juntamente com outras Câmaras socialistas, a matriz é a que se vê. A de uma atitude de resignação aparente ou aquele falso entusiasmo como se já tivesse ganho o que tem perdido sucessivamente.
Outros partidos seguem o mesmo caminho, mas com dimensão diferente. É o caso do Bloco de Esquerda, sobretudo. Será também o do PCP, mas os comunistas há muito que se habituaram ao seu espaço próprio. Curto, mas fiel.
Também o CDS, que experimenta uma fase híbrida que mistura poder e oposição, vai pelo mesmo caminho onde sabe que pouco vale a pena lutar. Mas tem no Governo e na Câmara de Santana o equilíbrio necessário.
Lá em cima, no JPP, o principal partido da oposição, dá sinais de ter arrumado a casa, mas precisa compreender que o estatuto de segundo partido é válido para os bons e os maus momentos. E tem de ser confirmado a cada eleição, incluindo – ou sobretudo – nas autárquicas.
É neste quadro que se encontra no PSD uma realidade igualmente estranha. Por um lado, dá a ideia de um partido bastante fragmentado em que qualquer candidato a candidato consegue enfrentar a liderança – mesmo que perca o confronto. Foi isso que aconteceu na Ribeira Brava, em Machico e pode ainda vir a acontecer em São Vicente.
Mas, por outro lado, é justo reconhecer que, mesmo escaqueirado, o PSD consegue mobilizar as tropas, lamber as feridas e correr como se tivesse perdido tudo o que habitualmente ganha.
É essa cultura de poder que faz toda a diferença na hora de ir a votos.
Dirão que só tem essa cultura quem já foi ou tem poder. Pois, sim! Mas cabe a quem lidera partidos da oposição criar condições anímicas para, ao menos, cheirar a poder. E isso não tem acontecido. Nem agora, nem nos últimos 50 anos – com exceção daquela janela de esperança aberta pelo PS em 2013 e fechada pelo PS em 2019.
Dito de outra forma, o que temos nesta pré-campanha para uma das eleições mais importantes para a sociedade e os partidos é o mesmo de quase sempre: a oposição corre pouco para manter o pouco que tem. E o PSD corre muito para não perder pitada do muito que sempre teve.
Estamos a três meses das eleições e todos os dirigentes da oposição com experiência mínima de cinco derrotas eleitorais já deviam saber que, ou mudam rapidamente de estratégia, ou, a partir de agora, é sempre a descer. Porque atrás vem o rolo compressor da máquina laranja a disputar votos como se tivesse perdido tudo.
O mesmo de sempre, com exceção onde partidos da oposição regional são poder local. E mesmo aí vão enfrentar a concorrência feroz.
Este retrato até podia ser um pré-aviso. Mas não é. É o resumo da matéria dada, que vai voltar a surpreender quem já devia saber isto de cor e salteado.