Ode à Madeirensidade

Celebrámos, no passado dia 1 de julho, o Dia da Região Autónoma da Madeira e das Comunidades Madeirenses. ‘Das ilhas as mais belas e livres’, lê-se na divisa do nosso brasão de armas. A Madeira é, inegavelmente, uma bela terra, de gente livre.

A nossa Região é mar e serra. É cultura e tradição, mas também inovação e progresso. É citadina e ao mesmo tempo rural. É cosmopolita e profundamente regionalista. A Madeira vive destas dicotomias. Destes conceitos que, parecendo antagónicos, se conjugam na perfeição neste ‘cantinho do céu’, como tantas vezes ouvi a minha avó apelidar o nosso arquipélago.

Estas diferenças, num território tão pequeno são o que nos caracteriza e nos diferencia. Em particular quando olhamos em retrospetiva e atentamos à nossa, ainda curta, história.

A forma como um povo ilhéu, tantas vezes esquecido no Atlântico, formou a sua identidade é caso de estudo. Durante quase seis séculos, os madeirenses e porto-santenses viveram sempre com os frutos do seu labor, que a custo, muito custo, souberem retirar dos parcos recursos naturais que disponham.

As dificuldades sempre foram mais que muitas. Contudo, a resiliência de sucessivas gerações de um povo que nunca baixou os braços, nunca desistiu, é a todos os títulos notável. Como é sabido, desde o povoamento da Madeira e do Porto Santo, só nos últimos 50 anos comandamos os nossos destinos.

Tal facto só agiganta as conquistas de cada madeirense e porto-santense. É com estupefação que recordo que o meu avô era analfabeto porque não teve oportunidade de estudar. Que a minha avó, de uma inteligência perspicaz, só possuía a quarta classe. Que a minha mãe, nascida após o 25 de abril de 1974, só anos depois de atingir a maioridade, pôde concluir o 12. ° ano. A Madeira em que temos o privilégio de viver é fruto das gerações deles, das dificuldades deles. A Madeira é como a liberdade. Temo-la. Só sabemos pelos livros o que custou a quem vivei outrora.

É por isso que se torna quase transcendental comemorar este dia tão especial, olhando para o ponto em que nos encontramos. Não irei referir indicadores, recordes, dados. Irei somente falar de pessoas. Das histórias de sucesso. Dos campeões nacionais, europeus e mundiais que uma Região com 250 mil habitantes produz. Dos alunos brilhantes que se destacam nas mais variadas áreas e ombreiam com outros, de países ditos muito mais desenvolvidos. Dos profissionais que são recrutados para fora pela sua competência atroz, ou daqueles que, cá sediados, projetam a Madeira no Mundo.

A Madeirensidade é tudo isto e muito mais. Porque somos mais que os que cá vivem. Somos também os cerca de 1 milhão de pessoas que compõem as comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo. É na saudade que a nossa diáspora demonstra, no desejo permanente de um dia cá voltar, que vislumbramos com clareza o quão afortunados somos.

Mas não fiquemos parados a contemplar onde chegamos (fruto dos esforços dos que nos antecederam). Que façamos a Região avançar ainda mais.

Há desafios que carecem de resposta. Os preços na habitação (problema que aflige a Europa e o Mundo), a baixa natalidade e consequente inversão da pirâmide demográfica, a retenção do talento, o aumento dos salários médios, a conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional, são exemplos de questões que os nossos antepassados nunca sequer imaginaram que viessem a ser problemas. A arte e engenho com que as gerações passadas ultrapassaram obstáculos, será a inspiração para a superação das provações do mundo contemporâneo.

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