Sou campista, sim. Quem, um dia, fez parte deste grupo, fica ligado a ele para sempre. Teria uns catorze anos, quando o Pe. Eusébio me convidou a fazer parte de um grupo de gente mais velha, um grupo que guardava 12 dias das férias de verão, em agosto, para ir para o campo que, nesse tempo, ficava mais longe.
A Manela, mãe desta ideia, conduzia um mini azul que ia carregado do que havia de ser preciso. Não sei o que levávamos, mas o indispensável para vivermos num lugar que, por alguns dias, havia de ser a nossa casa. O resto (e acho que nós também) íamos numa carrinha de caixa aberta, cantando ao vento que nos enfeitiçava, antecipando as anedotas do ToZé ou as partidas que havíamos de fazer uns aos outros.
E éramos felizes, num tempo em que não era preciso muito para se ser feliz. Bastava-nos a amizade, a oportunidade (que não era para todos) de experimentarmos a vida em comunidade, como a dos primeiros cristãos, em que partilhávamos tudo: o pão, a oração e os dons de cada de um, postos sempre ao serviço de todos e dos lugares onde se fazia o Campo. Bastava-nos o acolhimento das gentes que nunca deixava faltar comida na nossa mesa e a gratidão daqueles que viam naqueles jovens (éramos todos jovens, nessa altura) gente de bem. Bastava-nos saber que podíamos contar sempre uns com os outros. E íamos ajudar a trabalhar a terra, envolvíamos as crianças e os jovens, visitávamos os doentes. Vivíamos. À noite, reuníamo-nos todos para a festa. Eram doces as noites de agosto: campistas e residentes rezavam juntos, cantavam juntos, riam juntos.
Fiz caminho com essa gente. Permitam-me lembrar o Pe. Eusébio, salesiano, amigo de casa, um homem que me ajudou a crescer, a transformar os sonhos impossíveis em vida, a rir, a rir muito, também das minhas fraquezas. Permitam-me lembrar os outros que já partiram também. Permitam-me lembrar todos os que fizeram esse caminho comigo e os que mantiveram acesa a chama do Campo, com as adaptações necessárias, que os tempos e o mundo já são outros.
O Campo de Trabalho cumpre, hoje, 50 anos. A todos: os que estão e os que não estão, os que o sonharam e os que não o deixaram morrer, muito obrigada.