Dar de frosques por motivos pessoais é quase o mesmo que bater as botas por paragem cardiorrespiratória. A sério. Não conheço uma alminha que tenha subido aos céus com o coração aos pulos. Uma que seja. Foram todas, todas, todas com as actividades cardíaca e respiratória nulas. Palavra de honra. Isso e alegar motivos pessoais para renunciar a coisa alguma serão sempre um “lugar seguro”.
Na verdade, são, ambas, a justificação para tudo aquilo que não se quer, não se sabe ou, na pior das hipóteses, não temos paciência para explicar. Mas eu, que não aprecio muito dar explicações nem tão pouco me chamo Tibúrcio, vou abrir uma excepção. Eu explico: um tipo apareceu morto? Sofreu uma paragem cardiorrespiratória (PCR). Um fulano levou um tiro e não resistiu? Sofreu uma PCR. Beltrano tinha cancro, HIV e falência hepática e partiu? Sofreu, na certa, uma PCR. Cicrano engasgou-se com uma migalha e desfaleceu? Sofreu o quê? Uma PCR, pois claro. Sim, podem dar as voltas que quiserem, mas enquanto isso não acontecer, ainda que estejamos acabadinhos por dentro, ninguém atravessa as portas da morte.
Por outro lado, todos aqueles que não se sentem bem onde estão, mas também não têm muita vontade em sofrer uma PCR precoce, abandonam o projecto e dizem o óbvio: “Faço-o por motivos pessoais”. E pronto. Entra-se assim na esfera privada e nas tomadas de decisões que só a cada um dizem respeito… Mais ninguém tem alguma coisa a ver com isso.
Por exemplo, o até então candidato a presidente da Câmara Municipal do Funchal pelo PSD decidiu bater com a porta que lhe abriram. Bem, abriram, mas não avisaram que era daquelas giratórias… Conclusão? O homem, a certa altura, ficou entalado. Não sabia se entrava ou se saía. Cada vez que dava um passo em frente, atafulhavam o compartimento posterior com gente que não lembrava ao diabo. Ele, coitado, não via mal nenhum nisso. Faz lembrar o falecido Papa. Gosta de quase todos, todos, todos.
Primeiro foi um das Estradas que ia para o Urbanismo? “Qual é o mal?”. Não sei. Mas o bem também procurei, procurei, procurei e não encontrei… Depois foi uma senhora para as Finanças que está acusada por fraude. “É muito competente e trabalhadora”. Não duvido. Mas isso já dá direito a absolvição sem ir a julgamento?! Eu sei lá… O que sei é que de tanto rodarem, do nada, estavam novamente na porta de entrada/saída e a equipa que tinham vendido como vencedora, na minha opinião, mais parecia talhada para lutar para não descer.
Ainda assim, José Luís Nunes parecia determinado. Defendia a equipa com unhas e dentes. Tanto que acabámos por prometer um ao outro não mais voltar a tocar no assunto. Ele via-se a ser um Guardiola e eu via-o a roçar (salvo seja) um Tiago Margarido. E, na verdade, talvez fosse isso que me estivesse a custar mais. É que eu detesto que iludam os meus amigos (pais então nem se fala) com promessas de planteis fortíssimos, quando estes não passam de um grupo de atletas amadores ou de dispensados de outras equipas. Porém, dada a opinião, não me restava mais do que respeitar a decisão. Tal como ele já fez comigo em outras ocasiões determinantes da minha vida.
Foi, portanto, com alguma surpresa que li a notícia de que o senhor meu pai ponderava “renunciar à corrida”. Escrevo alguma porque ele há muito que já não corre. No limite, anda. Porém, ao abrir, leio: “Sabe o JM que o médico pediatra estará a ponderar seriamente resignar à candidatura e já terá informado o seu núcleo de apoiantes mais chegados sobre essa intenção, alegando razões do foro pessoal para o recuo”. Fiquei feliz por ele. Tanto que peguei e levei-lhe uma sandes de língua para o lanche. Mas das boas! Que o que não vão faltar agora vão ser das más…
Mas o que é que isso interessa? Nada pai. Continua humilde o bastante para saberes que podes ser substituído, mas sábio o suficiente para saberes que não há ninguém como tu e que sempre haverá outra chance, outro amor ou outra amizade, mas nunca outra vida. Não desperdices, portanto, o teu tempo nem te demores onde não te sentes bem.
Ps, não ligues, encontrei isto naqueles sites brasileiros com frases motivacionais quando pedi à IA que me desse “palavras de incentivo para um pai”. Pela qualidade, devem ser de algum Chagas Freitas, mas sem h. O meu conselho é só um: “Agora não digas mais nada. Quanto mais falares, pior. Sai mudo. Fica Calado”.
Ps do PS, aos que se perguntam se será um problema de saúde, eu ajudo. Podem ficar tranquilos. A dele, tanto quanto sei, está óptima. E a dos que lhe confiam a sua, também podem respirar fundo. Ele continuará, com a motivação de sempre, a tratar da canalha. Só que na Praça do Carmo. Não na CMF!
Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas.