Preconceitos, recuos e avanços

Vai por aí um frenesim pouco habitual para este advento de verão. Há demasiada crispação e nervoso miudinho.Este desconforto até podia ser explicado com o tempo tradicional de junho. Mas o capacete feito de nevoeiro não tem culpa de atos e atitudes que marcam estes dias.

A semana começou pela denúncia de inaceitáveis ações de discriminação de pessoas portadoras do Vírus de Imunodeficiência Humana. Há patrões a despedir e famílias a afastar gente com esse quadro clínico.

Gestos tão rasteiros como estes seriam desculpados no fim do século passado, perante uma geração atemorizada pela Sida. Mas, nos dias de hoje, com a informação e soluções que existem, revela-se criminoso agir de forma tão primária quanto ignorante e perigosamente assente no preconceito.

Mas foi também uma semana com dois importantes recuos na vida pública e política regional.

Primeiro foi a decisão de Savino Correia ao recusar ser candidato pelo PSD à Câmara de Santa Cruz. A decisão do homem que tão bem conhece o lugar que rejeita obrigou o partido a retomar o processo de auscultação das bases para indicar novo candidato a uma autarquia difícil.

O segundo recuo vem do mesmo concelho, mas agora do Juntos Pelo Povo. Depois de anunciada a candidatura de Paulo Alves, o partido percebeu que corria o risco de se desmoronar no município. A atempada leitura da situação política obrigou o JPP a voltar atrás e da reviravolta nasceu a indicação de Élia Ascensão como candidata a presidente da Câmara nas próximas eleições.

Quer num caso, quer noutro, aplaude-se a capacidade de aceitar a decisão alheia e de reconhecer o erro de anúncios sem garantias. E fica provado que a política também se faz de dúvidas e não apenas de decisões emanadas de cima para baixo.

Os avanços vêm acompanhados com dados estatísticos. Uns mostram como a Região tem reagido bem ao nível ambiental, apesar da cada vez maior pressão turística. E é bom perceber que há indicadores interessantes sem que isso represente ignorar os menos favoráveis.

Entre essas marcas, estão aspetos relacionados com a sustentabilidade elétrica. Ainda esta semana ficou demonstrado como uma Região como a nossa se prepara nessa matéria e como tem uma capacidade de resposta superior à média nacional. É certo que são realidades distintas, mas este avanço é um daqueles casos que não acontece por acaso, nem é fruto da sorte. É resultado de trabalho e de visão para lá da linha do horizonte.

Há outro elemento que concorre para que a Madeira esteja mais à frente do que outras regiões do País. A atenção que se dá ao fenómeno da Inteligência Artificial será um desses marcos. Há um plano traçado que passa por encarar esse desafio a partir de escolas públicas em jeito de ensaio. E fica claro que, perante uma nova realidade, de pouco vale ficar parado à espera de que o problema se resolva. É preciso atalhar caminho e prepara a revolução que se implementa sem pedir licença.

Ainda outro dado que resulta das notícias destes dias: o elevado número de carros novos que entraram na Madeira nos primeiros três meses deste ano. Foram 1.359 o que dá, em média, mais de 15 novas viaturas por dia.

Estes números apresentam um duplo sentido: tanto são um indicador de crescimento económico (mesmo que sejam carros para alugar a turistas), como contribuem de forma assustadora para a pressão que aumenta todos os dias nas estradas da Madeira. Em todas as estradas.

É um tema pertinente, mas não se vislumbram soluções fáceis. É tão legítimo querermos menos carros, como esperar maior crescimento económico das empresas que atuam no setor e que derramam lucros, direta e indiretamente, por toda a sociedade madeirense.

Não há bela sem senão.

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