As flores

As flores acompanham-nos desde sempre. Desde cedo éramos educados para respeitar e cuidar das plantas.

Em quase todas as casas, havia vasos espalhados pelos quintais, em cima dos muros, ou até dependurados. Não havia necessidade de grandes decorações com recurso a coisa caras, tudo o que precisávamos era usar de um pouco de criatividade e de um recipiente qualquer. As latas velhas, panelas gastas pelo uso e até cafeteiras transformadas ganhavam uma nova vida onde as flores erguiam a sua beleza.

Lá em casa tínhamos vários vasos de plantas, com nomes popularmente conhecidas por: “nossas-senhoras”, “corações”, “amores-perfeitos”, “jarros”, “begónias”, “sapatinhos”, “orquídeas”, “fetos”, “roseiras”, “ensaiões” e outras mais.

Os vasos multiplicavam-se por todo o lado, aproveitando todos os recantos. Para além dos vasos em quase todas as casas havia por norma um pequeno jardim. No quintal, as plantas cresciam com vigor, e, à medida que se desenvolviam, iam sendo mudadas para cântaros maiores, para terem espaço para florescer. Nada se perdia: uma folha caída ou uma haste cortada eram logo aproveitadas para dar origem a uma nova planta.

Dentro de casa, as jarras nunca estavam vazias. As flores, colhidas à medida que desabrochavam, enchiam os arranjos que davam cor e alegria à sala.

As flores também serviam para brincadeiras. Lembro-me de brincar ao “mal me quer… bem me quer”.

As festas religiosas eram o exemplo mais claro do papel das flores na vida comunitária. Nas celebrações importantes, como nas festas do padroeiro ou da padroeira, a igreja enchia-se de arranjos florais oferecidos pelas pessoas. Cada um dava o que tinha – flores do quintal, dos campos, do que estivesse ao alcance. Os altares eram decorados com um cuidado especial, transformando o espaço num mar de cores e perfumes. As flores eram também rainhas nos tapetes florais por onde passava a procissão. As ornamentações junto à igreja e nas principais ruas eram enfeitadas com flores naturais e não com flores de plástico como acontece nos dias de hoje. As flores serviam para tudo, até para momentos mais tristes, como os funerais. Mesmo em casa enquanto o corpo era velado colocava-se junto ao caixão os melhores vasos lá da casa ou até mesmo emprestados pelos vizinhos.

Não havia loja de flores na altura. Quem quisesse levava um pequeno arranjo improvisado, feito com flores que tinha mais à mão.

Naquele tempo, as flores não eram apenas um elemento decorativo. Eram uma extensão do cuidado e da dedicação das pessoas, uma forma de embelezar a vida e lugares.

Hoje, mesmo com as mudanças ao longo dos anos, há registos que importa ressalvar.

Em Santana por esta altura do ano passar na estrada conhecida na zona por “caminho dos pretos” é um verdadeiro regalo. A beleza dos novelos transforma as bermas da estrada em autênticos muros floridos. Recomendo.

Noutros tempos acontecia o mesmo ao longo das estradas regionais com as “coroas-de-henrique”. Bermas agora invadidas pelo betão.

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