O que não faltam são discursos, por norma, calorosos. Mas não informam. Convencem, mas nada resolvem. Colocam o dedo na ferida, mas não curam. Nem sequer indicam o caminho para atingir o objetivo pretendido.
Muitos já perceberam que os tempos são outros. Que o mais importante é perceber o que faz palpitar a população. Empolar, depois, o que está mal e prometer continuidade na denúncia disto ou daquilo, assegurando que a voz não lhes vai faltar.
Quem apresenta ideias ou soluções não consegue envolver todos. Nomeadamente aqueles que querem sentir, através da voz dos outros, que há quem entende os motivos da sua insatisfação.
Porque para além de prometer novos projetos, as pessoas também esperam compreensão sobre aquilo que as aflige.
E pouco se importam com todos os que olham para o vizinho e se fartam de gritar lobo, uma e outra vez. Até porque os alertas parecem quase iguais e advindos de quem sempre teve espaço para corrigir as indesmentíveis assimetrias sociais com que nos deparamos, mas que permanecem aparentemente irresolúveis.
Tem mérito, portanto, quem sabe ouvir o que o rodeia, nem que seja somente porque saberá também dizer o que os outros querem ouvir. É verdade que este comportamento sabe a pouco do ponto de vista estratégico. Mas é, sem dúvida, um modelo vencedor e que se mostra cativante para muitos dos que ouvem ou leem.
Quem não perceber que o povo está insatisfeito com o que tem, vai continuar a perder o que já não tem: a confiança dos que já não acreditam nos mesmos do passado mais ou menos recente.
Pior é não ouvir ninguém. Ou fazer de conta. Como fez, por exemplo, o JPP, antes da previsível e anunciada candidatura de Paulo Alves à Câmara de Santa Cruz. Já todos desconfiavam que esse seria o resultado da votação fechada a 15 militantes com assento na Comissão Política Nacional. E nem se percebeu muito bem a razão pela qual um partido, que escrutina os gastos dos outros, se prontificou a gastar vários milhares de euros numa sondagem que só ‘castigou’ aquele que foi o escolhido para as autárquicas.
Em Santa Cruz, avança, portanto, a terceira opção mais votada na sondagem do partido que está no poder autárquico. O segundo posicionado, Milton Teixeira, entendeu que deveria ser a escolhida pelo povo/estudo de opinião, Élia Ascensão, a avançar nas próximas eleições. Assim não quis a cúpula do JPP, legitimamente mandatada para tomar todas as decisões, mesmo as que signifiquem contrariar a génese que esteve na base da sua fundação, como é a vontade popular.
Não foi possível, portanto, dialogar internamente e encontrar consensos em nome da união. Na reação, ouviu-se apenas dizer que os projetos valem mais do que as individualidades, sejam elas quais forem. Resta perceber com que individualidades se construirão os projetos que preconizam os ‘verdes’. Porque não há projeto que vença sozinho ou mal-acompanhado.