Ainda estou a refletir sobre os resultados eleitorais de 18 de maio. E devíamos estar todos. A verdadeira reflexão não acontece logo após o anúncio dos resultados, nem no turbilhão de análises e disputas partidárias. Ela nasce no silêncio dos dias seguintes, nas conversas casuais, nas notícias que lemos e nos debates que se desenrolam. Deve ser feita em comunidade, sobretudo com quem pensa de forma diferente.
Tive o privilégio de representar o PAN na RTP1 na noite eleitoral, comentando resultados em intervenções breves, mas significativas. Depois, segui para o hotel onde se celebrava a reeleição da Inês. Sim, o PAN tem razões para festejar – sobrevivemos num contexto de sucessivas crises políticas e ascensão dos extremismos, mantendo uma voz ativa e equilibrada na AR. Mas mais do que celebrar, quero refletir.
Foi o que fiz ao conversar com o taxista que me levou ao hotel. Ele votou no CHEGA, não porque queira ver André Ventura como primeiro-ministro, mas porque deseja uma oposição forte contra problemas que considera urgentes – imigração descontrolada, subsidiodependência, violência e corrupção. Reconhece que não há competência governativa naqueles que apoia, mas quer mudança. E isto deve fazer-nos pensar.
O cansaço e a desilusão política não afetam apenas quem milita em partidos. Muitos sentem que o país não os ouve e que opiniões contrárias são repudiadas. Vivemos numa sociedade que, paradoxalmente, tolhe tanto liberais como conservadores. O país precisa de menos divisão e mais diálogo, menos egos e mais entendimento, menos politiquices e mais sentido de Estado.
Todos falhamos. O resultado do dia 18 reflete uma falha coletiva que concedeu 58 lugares a um partido que fala muito, mas faz pouco, sem competência, mas com garra. Este padrão repete-se entre partidos tradicionais que manipulam informação, exploram medos e vitimizam-se. No jogo político, poucos valorizam quem trabalha, enquanto as conquistas reais são negligenciadas.
No meio do caos humanitário e social, partidos como o PAN são frequentemente marginalizados. Mas não somos uma moda passageira – mantemo-nos firmes. Defendemos causas num ambiente político dominado por extremismos, onde a crise na saúde e na habitação desvia atenções de temas ambientais. Ainda assim, acreditamos que pequenas soluções fazem diferença e que medidas estruturais, não remendos, são essenciais.
A política não pode ser privilégio de poucos, mas deve estar presente em todas as decisões da vida. Todos somos políticos ao votar – escolhemos não apenas partidos, mas programas e pessoas que moldam o nosso futuro. Com novas eleições à vista, devemos refletir sem medos, sem filtros, sem manipulações. O que queremos para a Madeira? Quem nos representa dá-nos orgulho e segurança? Que futuro queremos construir? Como se pode reinventar a política? Como podemos participar mais?
Somos um coletivo, mesmo num mundo cada vez mais individualista. Precisamos uns dos outros. Por isso, reflitamos juntos e, a partir do nosso espaço, façamos a nossa parte.