O Irão, atualmente envolvido em negociações sobre o dossiê nuclear com os Estados Unidos, afirmou hoje que poderá autorizar a visita de inspetores norte-americanos da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) caso seja alcançado um acordo com Washington.
“Se as questões forem levantadas, se for alcançado um acordo e se as exigências do Irão forem tidas em conta, então reconsideraremos a possibilidade de aceitar inspetores norte-americanos” da AIEA, disse Mohammad Eslami, chefe da Organização de Energia Atómica do Irão (AEOI).
Teerão e Washington, inimigos desde a Revolução Islâmica de 1979, iniciaram a 12 de abril, sob a mediação do sultanato de Omã, conversações sobre a delicada questão do programa nuclear iraniano.
Os dois países declararam publicamente o seu desacordo sobre a questão sensível do enriquecimento de urânio.
O anúncio de Eslami surge numa altura em que o Presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, está de visita a Omã e nas vésperas de uma visita ao Irão de um funcionário da AIEA.
Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou unilateralmente o seu país de um acordo nuclear internacional alcançado com o Irão em 2015 e restabeleceu pesadas sanções contra Teerão.
“[Desde então], sempre recusámos inspetores de países que são hostis [ao Irão] e que se comportaram sem princípios”, sublinhou Eslami, dizendo-se pronto a rever esta posição.
Os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, e Israel, inimigo declarado do Irão e considerado pelos especialistas como a única potência nuclear do Médio Oriente, suspeitam que Teerão pretende adquirir armas nucleares, algo que é negado pela República Islâmica, que alega não ter ambições militares.
Segundo a AIEA, o Irão está atualmente a enriquecer urânio a 60%, muito acima do limite de 3,67% autorizado pelo acordo de 2015 assinado com as grandes potências internacionais.
Teerão alega ter quebrado os seus compromissos em retaliação à retirada dos Estados Unidos do protocolo, que também foi assinado pela China, França, Rússia, Reino Unido e Alemanha.
Os especialistas acreditam que o urânio enriquecido acima de 20% pode ter potenciais aplicações militares. Para construir uma bomba nuclear, o enriquecimento deve ser aumentado para 90%.
O Irão e os Estados Unidos, que realizaram uma quinta ronda de conversações em Roma na sexta-feira, saíram da capital italiana sem fazer qualquer progresso significativo, mas disseram estar prontos para novas discussões. Ainda não foi fixada uma nova data.
As conversações em curso foram descritas como “muito, muito boas” por Trump, que ameaçou bombardear o Irão se a diplomacia falhar.
O principal pomo de discórdia diz respeito ao enriquecimento de urânio.
O enviado norte-americano para o Médio Oriente, Steve Witkoff, que dirige as discussões em nome de Washington, afirmou que os Estados Unidos “não podem autorizar uma capacidade de enriquecimento nem que seja de apenas 1%” para o Irão.
Teerão, que defende o direito ao nuclear civil, nomeadamente para fins energéticos, considera esta exigência como uma “linha vermelha”, contrária às disposições do Tratado de Não Proliferação (TNP), do qual o Irão é signatário.
Por seu lado, o gabinete do primeiro-ministro israelita desmentiu hoje um artigo do jornal The New York Times que afirmava que Benjamin Netanyahu ameaçava fazer descarrilar as negociações entre o Irão e os Estados Unidos atacando as principais instalações de enriquecimento nuclear iranianas.
Trata-se de uma “notícia falsa”, afirmou o gabinete de Netanyahu.
O diário norte-americano relatou pelo menos uma conversa telefónica tensa entre Trump e Netanyahu sobre estas ameaças israelitas. O artigo acrescentou que as autoridades norte-americanas estavam particularmente preocupadas com a possibilidade de Israel decidir atacar o Irão sem aviso prévio.