Madredeus

Há uma certa injustiça, em cada ranking, em cada top, pois a vida não é um exercício comparativo, como tal, as escolhas ditas racionais basear-se-ão sempre em critérios decididos com o viés de quem os decidiu, com a certeza de que se fossem outros os critérios adoptados, o ranking / top apresentaria uma composição diferente. Por isso advogo firmemente o sentir, Honoré Balzac diz-nos que “raciocinar onde é preciso sentir, é próprio das almas incapazes”, pelo que, aqueles que são os nossos gostos e o respeitante à sua hierarquia, deverá ser sentida e não apresentar racional.

Aborrece-me quem justifica os seus gostos e preferências, pois parece que não acredita verdadeiramente no seu sentir, é de uma boçalidade confrangedora. Pior são aqueles que tentam assacar justificações sobre os gostos de alguém, qual inquisição fútil normalmente na senda de demover ou alterar os mesmos, como se aquela não fosse uma propriedade intrínseca à nossa existência individual.

A música faz parte da minha vida de uma forma difícil de entender. Não consigo conceber um dia sem música, é-me visceral a necessidade de ouvir música, John Miles diz “Music was my first love. And it will be my last” – na sua Music, superiormente produzida pelo génio Alan Parsons, e revejo-me em absoluto. A quantidade e diversidade de música que ouço abrange praticamente todo o éter, (com muitas excepções actuais, pela falta de qualidade) pelo que a elaboração de um top de músicas ou de grupos musicais é tarefa hercúlea, mas quando se sente tudo se torna simples, pois decorre naturalmente.

O melhor grupo português de sempre, acompanha-me desde as primícias da década de 90, soltaram uma Vaca de Fogo – no álbum Os dias da MadreDeus, lançaram um Pastor – no álbum Existir, e depois fizeram descer sobre mim O Espírito da Paz, esse álbum que estou neste preciso momento a ouvir, tal como o faço desde 1994, com uma frequência quase diária.

A formação original dos Madredeus é para mim aquela de maior impacto, Pedro Ayres Magalhães, Rodrigo Leão, Francisco Ribeiro, Gabriel Gomes e Maria Teresa de Almeida Salgueiro. No videoclipe de Vaca de Fogo, Francisco Ribeiro, infelizmente já falecido, no cais das colunas com a Teresa Salgueiro, ou os miúdos a correrem à volta de uma Teresa Salgueiro tão jovem e tão segura, são lugares para onde a música ainda me transporta, para a minha Lisboa de outros tempos.

A existência é de facto uma singularidade espácio-temporal, mas a coordenação existe e é claramente superior, vejamos como o acaso (existindo) leva a que numa tasca do Bairro Alto se dê o encontro da vontade de um projecto que necessitava de vocalista, e aquela que seria a voz e rosto do mesmo, e que levaria a um sucesso Mundial, isto é, senão providência Divina.

Não obstante, o filme Lisbon Story de Win Wenders, ter como banda sonora os Madredeus num, por exemplo inesquecível Alfama, ou no álbum Paraíso encontrarmos pérolas como, Não muito distante, nos quais podemos deleitarmo-nos com a voz suave e doce da Teresa Salgueiro, e a típica musicalidade genial de música erudita misturada com fado, com folk, com World music, para mim O Espírito da Paz é ainda o expoente máximo da música, este é um álbum para a eternidade.

Madredeus, sinto-vos parte da minha vivência musical neste plano existencial.

Obrigado!

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