Não é notícia para ninguém que a saúde do nosso país balança à beira do precipício. Os sinais de alarme já não gritam, mas sim ecoam num vazio de respostas.
Em Portugal, a espera para sermos atendidos por um médico já cansa: cansa aqueles que aguardam numa maca num corredor de hospital, cansa aqueles que aguardam por uma consulta que nunca chega, cansa aqueles que vêm enfermeiros e médicos a passar na boa, a conversar, enquanto aguardam pelo seu diagnóstico.
Em pleno século XXI, e num país desenvolvido como o nosso, vemos urgências fechadas constantemente, centros de saúde sem capacidade de atender utentes, doentes oncológicos que não recebem tratamento adequado atempadamente, já para não falar das grávidas…
Recentemente, implementaram uma medida nova, a triagem digital, sendo este um serviço para atendimento a doentes que devem contactar a saúde 24 em caso de urgência, de modo a analisar a situação do utente e encaminhar este para o respetivo hospital. Seguidamente, alargaram esta medida para as grávidas, bebés e crianças. Sempre achei esta medida ridícula. Vamos ser sinceros: qualquer médico ou enfermeiro que esteja a ler este artigo sabe perfeitamente que não há nenhuma situação em que um algoritmo de telefonema consiga identificar e diagnosticar com exata precisão. Nem tem como saber se a pessoa que está em linha, está efetivamente doente ou não.
Mas mesmo depois desta triagem, quando se deslocam a um hospital público, os utentes ficam horas e horas, por vezes dias, para ter uma consulta de urgência e que um técnico os venha examinar. Mas o problema não é apenas a espera ou a incompetência de alguns serviços de administração, mas sim também o tato. A quantidade de vezes que somos atendidos por técnicos, administrativos, médicos ou enfermeiros rudes e sem qualquer empatia ou sensibilidade para a dor ou para as horas de espera do utente ou dos seus familiares.
Outras pessoas optam pelos grandes grupos privados (CUF, Lusíadas, Trofa Saúde e outros). No entanto, quantas pessoas neste país, já chegaram à porta de um hospital privado e o mesmo recusa-se a atender por não terem como pagar a consulta? Ou manda-os para a sala de orçamentação para proceder previamente ao pagamento? Pergunto-me: onde está a ética profissional nestes casos? Ou cedo esqueceram o juramento de Hipócrates em que juram que a saúde do seu paciente está em primeiro lugar? Concordo inteiramente que nenhum médico não deva virar as costas a alguém que necessita dos seus cuidados. Não obstante, o juramento de Hipócrates é questionado neste preciso momento. Esta questão não é mencionada nos espaços mediáticos. Ninguém menciona a quantidade de pessoas que ouvem “o seu tratamento não pode continuar pois não tem dinheiro para pagar estes custos”. Os benefícios da ADSE ou dos seguros de saúde não cobram todos os tratamentos. Já à muitos anos que a saúde se tornou um negócio.
A escolha é simples: ou optámos pelo público, aguardando horas, dias, semanas, meses, por uma consulta de especialidade; ou, optámos pelo privado e pelos custos que isso acarreta.
Não esqueçamos de um pormenor importante: a saúde é um direito, consagrado na Constituição Portuguesa, e garante que todos os cidadãos tenham acesso ao sistema de saúde! No entanto, na prática, este direito está a ser negado a muitos pela incapacidade do sistema público de dar resposta!